Carla Brasil
Há pouco mais de um ano, a ONU MULHERES, entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, conjuntamente com o Pacto Global, projeto que visa implementar direitos humanos fundamentais em nível empresarial internacional, especialmente nas relações de trabalho, proteção ao meio ambiente e combate à corrupção, criaram os 7 Princípios de Empoderamento das Mulheres, recomendações de rotinas que podem ajudar empresários a incorporar em seus negócios valores e práticas para diminuir a desigualdade entre homens e mulheres no ambiente profissional e para dar mais poder às mulheres, historicamente desprestigiadas em culturas patriarcais e machistas.
São eles:
- Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
- Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.
- Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.
- Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
- Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing.
- Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
- Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
O primeiro princípio é o mais importante, porém, o mais difícil justamente porque vivemos sob influência filosófica da cultura judaico-cristã, tradicionalmente patriarcal e machista. Os principais Atores ou Arquétipos da construção, destruição ou revoluções são geralmente homens, com raras exceções.
Liderar não é tarefa fácil, principalmente quando a líder tem que dividir a função de liderança com a administração do lar. Tem que ser mãe, cuidar dos filhos e da casa, delegar tarefas à empregada doméstica, levá-los à escola ou creche.
Quanto mais elevada a função hierárquica no organograma da companhia, menos mulheres. É o que o primeiro princípio visa diminuir.
Os demais princípios recomendam ações para evitar discriminação contra as mulheres, segurança de todos nos locais de trabalho, a promoção de cursos, palestras e simpósios para desenvolvimento profissional das mulheres, apoio aos projetos empresariais delas e ativismo político em favor das mulheres.
O sétimo e último princípio sugere a documentação (arquivo) para medição daquilo que efetivamente foi realizado em prol das mulheres no ambiente corporativo, com destaque para a publicação dos resultados como forma de incentivar outros empresários a adotar práticas semelhantes.
A ideia por trás desses princípios é a de que o empoderamento das mulheres, “o dar mais poder a elas”, não somente é justo como pode trazer mais bem-estar às famílias, mais lucros às companhias e mais tributos ao Estado, em um círculo virtuoso onde todos sairiam ganhando. Se tradicionalmente cuidamos da casa e dos filhos, e agora passamos a trabalhar fora, em uma dupla – e exaustiva – jornada de trabalho, quanto mais poder tivermos conseguiremos mais qualidade de vida para nós e nossos familiares.
No livro O Novo Relatório da CIA, Como será o Amanhã, o jornalista investigativo Heródoto Barbeiro divulgou um trabalho de Inteligência dos EUA com enfoque em um Estudo de Cenários sobre as tendências globais para o ano de 2025. Nesse relatório de Inteligência de Estado, elaborado com a colaboração de pesquisadores em várias universidades do mundo todo, os Analistas de Inteligência da CIA chegaram a conclusão que a África e o Oriente Médio, especialmente o Egito, podem crescer bastante economicamente se adotar políticas de empoderamento das mulheres. São medidas simples como permissão de estudo, de direção de veículos automotores e caminhar desacompanhadas nas ruas que podem impactar na economia desses países[1].
Se para os Estados o desafio é a integração mulheres x cargos de decisão, para nós, mães e mulheres, o desafio é conciliar as tarefas domésticas com a rotina de quem toma decisões em uma empresa da qual muitas outras mães e mulheres dependem para seu sustento.
Por isso, as líderes que mais admiro são justamente aquelas que não abriram mão de casar e ter filhos e conseguiram conciliar vida profissional com aquilo que a sociedade espera delas, a constituição de uma família, como as poderosas Maria Lúcia Horta Jardim da ONG Rio Solidário, Luiza Helena Trajano, Presidente do Magazine Luíza e Adriana Machado, ex-presidente da GE Brasil e atualmente consultora de assuntos estratégicos nos EUA. Sempre que posso leio entrevistas e artigos delas para insights de ações de marketing, de conquista de mercado.
O Brasil ainda está em uma fase intermediária entre os países mais desenvolvidos da Europa e EUA e os países mais atrasados onde a mulher tem função predominantemente “Do-lar”. Por aqui o trabalho doméstico acaba sobrando para as mulheres, que têm que ganhar bem para poder pagar Babás e creches, senão não vale a pena trabalhar fora, bem como convencer os maridos a realizar tarefas domésticas.
Políticas de promoção ou “cotas” femininas nos cargos de supervisão e chefia das companhias, programas sociais e de microcrédito com ênfase nas mulheres, muitas das quais legítimas “chefes de família”, podem empoderar mulheres das classes menos abastadas do país e, porque não, ajudar a superar a crise da economia.
Carla Brasil, mãe, esposa, dona-de-casa e analista de marketing da Montax.