Alunas da Escola Técnica Estadual de Suzano reaproveitaram rejeitos de indústria para compor resina utilizada na fabricação de objetos, como cabos de panela, escapamentos e para-raios. Pesquisas duraram um ano no laboratório da unidade
Novembro, 2016 – Cabo de panela, escapamento de moto, peça de para-raios. Esses objetos têm em comum a utilização da mesma matéria-prima, um polímero conhecido como baquelite, que não esquenta, não transfere energia elétrica, não se deteriora na presença de reagentes químicos e não quebra facilmente.
O processo de fabricação desse material se dá a partir da mescla de alguns elementos, como o formaldeído e o fenol. Este último é de alta toxidade e oferece riscos durante sua manipulação. Para solucionar o problema e dar outro destino a rejeitos industriais, duas técnicas em Química recém-formadas na Escola Técnica Estadual (Etec) de Suzano pesquisaram e descobriram uma nova forma de fabricar o baquelite.
Luma Caroline da Silva e Nathalia Leite Ferraz criaram o projeto Resina Lignofenólica com uso de rejeito industrial, que venceu a categoria Tecnologia Química, de Alimentos, da Agroindústria e da Bioenergia na 10ª edição da Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps), realizada em outubro.
O diferencial do produto, cujo desenvolvimento foi orientado pelo professor Cesar Tatari, está na substituição de parte do fenol pela lignina, um elemento químico encontrado nas plantas e descartado pelas indústrias que trabalham materiais fibrosos, como os do papel. Essa substância, que mantém a celulose ‘colada’ na estrutura das folhas, acaba se tornando um substrato da fabricação de papéis chamado licor negro.
“Essa troca faz com que tenhamos um produto economicamente viável e correto ambientalmente, pois estamos reutilizando resíduos da indústria”, explica Luma. O licor também pode ser extraído de outros elementos fibrosos, como a casca do coco verde, por exemplo.
Um ano de pesquisas
A chegada ao resultado não foi fácil. Nos laboratórios da Etec, as estudantes tiveram de testar técnicas para tornar a resina ideal para a fabricação de plásticos. Foi preciso um ano de pesquisas até que a resina fosse efetivamente utilizada na prática. “Por falta de metodologia na literatura, as alunas encontraram algumas dificuldades, especialmente para transformar o material em pó em uma das etapas”, aponta Tatari.
Segundo as estudantes, a fabricação do baquelite com a lignina chega a ser 30% mais barata do que a usual e apresenta a mesma qualidade. Uma empresa se dispôs a empregar o material em alguns objetos, como escapamento de carro e cabo de panela, e as peças puderam ser vistas na Feteps. O potencial de mercado existe, garante o professor. E o que está faltando, segundo ele, é apenas investimento.
“Precisamos de parcerias que nos doem o licor negro e financiamento para buscar a patente do nosso produto. Estamos estudando, também, a abertura de uma empresa para comercializar a nossa ideia”, diz Luma. Ela e Nathalia continuam trabalhando juntas e hoje fazem o curso de Processos Químicos na mesma faculdade.
Fonte: Boletim CPS