Abril, 2017 – A 23ª edição da Semana de Tecnologia Metroferroviária, que será realizada pela primeira vez no Campus Paraíso da Universidade Paulista- UNIP, terá como um dos seus temas base a necessária e urgente expansão das redes sobre trilhos, em seus sistemas metroviários ou ferroviários. Para isso, será imprescindível debater muito a indução ao desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional.
A Semana de Tecnologia Metroferroviária, considerada a mais importante do setor de transporte sobre trilhos no País, acontecerá num momento grave e especial. Está em pleno andamento o processo de renovação antecipada da chamada malha paulista, por mais 40 anos, sem critérios técnicos e jurídicos bem definidos, como o modelo de concessão e a falta de investimentos nos sistemas de Metrô-SP e na CPTM. As duas empresas transportam por dia mais de 4,5 milhões de pessoas na maior metrópole do Brasil.
“Hoje, 127 anos depois da inauguração da primeira ferrovia, temos apenas cerca de 25.000 km de trilhos, a mesma malha do Japão (país do tamanho do Estado de São Paulo), 14 vezes menos do que os EUA e quatro vezes menos do que a Rússia”, diz o professor e Doutor, José Manoel Ferreira Gonçalves.
Segundo ele, o Brasil chegou a 2017 com um cenário preocupante, sem um marco regulatório atualizado, onde o chamado direito de passagem seja garantido, entre outros aspectos que precisam ser considerados para destravar os nós que atrapalham o deslanche do setor.
Fracasso das concessões do setor ferroviário
Para José Manoel, entre as causas do fracasso das concessões do setor ferroviário, contratadas há mais de 20 anos, está exatamente a inadequada modelagem que foi adotada na época. “Muito simplista, aproveitou apenas a divisão das malhas existentes, que a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima-RFFSA utilizava para gerenciar seu sistema, com fortes conotações político regionais, sem verificar a particularidade do mercado de transportes, em cada região”, explica.
De acordo com José Manoel não foi verificada, adequadamente, a aplicabilidade do mesmo modelo em todas as malhas, principalmente naquelas localizadas em regiões com baixo desenvolvimento econômico, que exigiam modelagens alternativas para se adequar às condições mais adversas.
É bom lembrar que em 1854, o Brasil inaugurou sua primeira ferrovia. O progresso chegava com 14,5 km de trilhos entre a cidade do Rio de Janeiro e Petrópolis. E já em 1889, o País utilizava 9.200 km de ferrovias, enquanto construía outros 9.000 km. Na mesma época, a cidade de São Paulo tinha sete linhas de bonde. Juntas, elas transportavam 1,5 milhão de pessoas por ano.
Por um período de 50 anos, de 1870 a 1920, o Brasil construiu um dos mais complexos e difíceis sistemas ferroviários do mundo. Difícil pela geografia, topografia, existência de grande quantidade de rios, cadeias de montanhas, serras, florestas fechadas, vales e platôs.
Os ingleses deram grande contribuição a esse desenvolvimento. A maior das ferrovias em extensão era a Leopoldina Railway, com 1.978 milhas em bitola de 1 metro, ligando o Rio de Janeiro com a Zona da Mata até Vitoria (ES); percorria todo o Estado do Rio, com o maior parque de material rodante do país, capaz de despachar 128 trens por dia.
Acontece que depois disso, começou o abandono gradual e continuado do trem como meio de transporte de pessoas e cargas. Foram fechados inúmeros trechos, ramais e linhas férreas inteiras, inclusive muitas eletrificadas. Mas o trem polui quatro vezes menos, pois, em média, necessita de apenas um quarto do óleo diesel consumido pelos caminhões para transportar uma mesma carga. É mais limpo e mais barato.
“Tanto prejuízo financeiro, descaso social e ambiental (basta pensarmos nos acidentes nas estradas e nas filas de caminhões para os portos brasileiros), fruto da escolha política pelo rodoviarismo, concentrou demasiadamente o transporte em cima de pneus, causando poluição, perda de competitividade e tarifas caras que aumentam o custo de alimentos e dos produtos agregados”, conta José Manoel.
Efetivamente, o predomínio absoluto do transporte rodoviário sobre os demais meios, a distribuição modal do transporte de cargas no Brasil, que é perversa e irracional, principalmente por que foi feita com baixa eficiência energética e enorme capacidade poluidora, aumentou os riscos de acidentes, exigindo maior reserva de espaços públicos e elevando substantivamente os custos.
Nesse contexto complexo e adverso, o setor metroferroviário vem procurando enfrentar as dificuldades, buscando maior organização para de forma mais eficaz exigir mudanças que possam significar a recuperação do papel importante dos trilhos na vida do País.
Por isso a próxima edição da Semana de Tecnologia, terá um enorme peso e responsabilidade. Será um excelente espaço para que os diversos temas sejam discutidos amplamente e com credibilidade. Como, por exemplo, a viabilização dos investimentos para a expansão do sistema de passageiros e cargas, com a apresentação das soluções adotadas com sucesso no Brasil e no mundo.
“Neste momento delicado, o Metrô de São Paulo, que foi o primeiro do país, e todo construído com o dinheiro público extraído do trabalhador, assim como a CPTM, estão ameaçados”, alerta José Manoel.
Segundo ele, ambos precisam ser preservados e ampliados, seja pela importância que juntos têm no funcionamento da maior cidade de São Paulo ou pelo que representam para o país. O mesmo vale para a malha paulista concessionada. Hoje ameaçando reduzir ainda mais as extensões de trilhos em funcionamento regular.
“Por tudo isso e muito mais, desejo que o evento deste ano, agora com a participação mais de perto da academia, através da UNIP, seja mais um sucesso como tem ocorrido todos os anos. E que os problemas estruturais e políticos que dificultam o desenvolvimento do sistema de transporte sobre trilhos sejam superados, para o bem da cidadania e do verdadeiro interesse público”, finaliza.
Sobre a Semana – A Semana de Tecnologia Metroferroviária é considerada o mais importante Congresso Técnico do setor de transporte metroferroviário do País. Durante quatro dias de evento, técnicos das operadoras, dirigentes empresariais e profissionais do setor debatem questões importantes relacionadas à mobilidade urbana nas grandes cidades.
Sobre a EXPO METROFERR 2017 – Realizada paralelamente ao Congresso, a EXPO METROFERR reúne empresas fabricantes de equipamentos metroferroviários, fornecedores de peças e serviços, mídias especializadas, etc. que levam ao evento as inovações oferecidas ao mercado.
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