Dira Paes é a convidada do ‘Espelho’ da segunda, dia 11

Convidada do ‘Espelho’, Dira Paes fala sobre política, /carreira e suas raízes paraenses“É um Brasil que o Brasil não conhece”. 

DIRA
Dira Paes é a entrevistada no programa Espelho, do dia 11, no Canal Brasil. Divulgação

Setembro, 2017 – Convidada do “Espelho” da próxima segunda-feira, dia 11, às 21h30, a atriz Dira Paes começa a entrevista contando que já se arrependeu de não ter seguido a carreira como engenheira civil. “É um outro caminho menos exposto, sua vida fica mais guardada para você, e também é um lado mais concreto… Dois mais dois são quatro, eu gosto (risos). E na nossa profissão dois mais dois são cinco, cinco e meio”, compara.

Ao longo da conversa, a paraense enaltece suas raízes, comenta a profícua carreira no cinema, mostra a sua visão política e revela que pretende morar fora. A seguir, leia trechos da conversa.

Pará: “O Pará faz parte da minha existência como um todo, o Norte é muito esquecido. Geralmente se fala do Norte pensando num Nordeste. O Norte é uma Amazônia inteira, que trago nos meus braços. É inevitável falar das minhas origens e eu gosto de falar, lembrar que a Amazônia existe. Gosto de ser representante deste lugar que eu venho, das minhas raízes”

(ao fim da entrevista) “É uma região linda, um Brasil que o Brasil não conhece. As pessoas não têm ideia desse Brasil maravilhoso e plural e lá você tem as raízes. O Pará ainda se mantém vivo na culinária, nos perfumes de como era há 500 anos atrás. O Pará é muito o Brasil primeiro. Eu gosto muito das palavras únicas que existem lá, da herança dos índios e das lendas, e dessa Amazônia encantada. Amo ser paraense”.

Limitação pelo tipo físico: “Num primeiro momento da minha vida, assim, eu comecei muito jovem, com 15 anos. Eu não tinha dimensão e nem preocupação sobre o que isso quer dizer, mas ao longo da carreira, achei que seria prisão, meu tipo físico. Você tem essa característica brasileira e só pode fazer tais personagens, depois eu vi que isso me trazia os bons personagens”.

Frequência no cinema: “Quando o cinema brasileiro começou a enfraquecer com a perda da Embrafilme, durante a década de 90, eu já tinha entendido que o cinema era um nicho especial pra mim. Então, eu tenho uma felicidade de ter dado crédito pra isso na vida, de ter acreditado no cinema brasileiro. Eu tinha orgulho de fazer cinema brasileiro quando era mega-alternativo, quando isso não era chique. Hoje a gente tem um reconhecimento, pelo menos da classe artística, que fazer cinema é um privilégio”.

“2 Filhos de Francisco”:  “Tem uma particularidade que acho interessante a gente falar sobre, que é contracenar com criança. Eu não era mãe na época, e tinha que contracenar com as crianças, brilhantes. Criança geralmente é brilhante na sua espontaneidade, troquei muito com o esperar o que vinha das delas pra que isso me tocasse. Como não era mãe, e era louca pra ser mãe, aquilo me comovia muito, eu não sabia se seria mãe ou não. Dona Helena é a mãe universal e eu não queria me inspirar na mãe verdadeira, mas a vida é tão curiosa que nos últimos dias de filmagem ela foi visitar o set e  eu não a conhecia, só de foto. Nós nos encontramos, demos um abraço e ela falou: ‘Eu era assim mesmo’, aí puxou a filha e falou: ‘Eu era assim’, e a gente estava com o mesmo penteado. Nos abraçamos e caminhamos até o Breno Silveira, o diretor, que estava longe fazendo outro take, e quando viu nós duas chegando teve uma comoção. Ali a gente percebeu que a gente sente essa alquimia de uma energia, que tá acontecendo, de alguma coisa legal, essa alquimia vem pra equipe toda que está filmando, e isso é muito bom quando pinta no set”.

Saudade da infância: “Essa relação com a natureza, com a rua, essa liberdade da infância, esse sentimento do desprendimento, quando eu fecho os olhos e lembro da infância me vem os cheiros, sensação maravilhosa de que eu era dona do meu lugar. E tenho saudade da nossa época não informatizada, não acho que deva voltar, mas acho que a gente tem que contemporizar a nossa existência tecnológica com a nossa existência real, palpável, concreta, de cotidiano de vida. Eu tento equilibrar esses dois lados, e eu voltei muito a ligar pras pessoas, de repente é até falta de educação ligar pra alguém, mas eu voltei a ligar, e isso tem me feito bem. Acho que a gente anda pra frente, sim, mas tinha um glamour, uma existência mais próxima do humano que gosto mais”.

Representatividade feminina: “Estamos caminhando pra dar uma mudança geral do que é uma postura do feminismo no dia de hoje, vivemos num mundo de desigualdade, pensando por que a mulher do século XXI ainda vive à sombra. A gente ainda falar de igualdade de gênero, isso é tão atrasado e antigo isso. O filme “Mulheres no Poder” é um grande deboche, o mundo é todo dominado pelas mulheres, tem uma sátira sobre isso, mas ao mesmo tempo a gente mostra que a desonestidade e a corrupção independem de gênero.

Existe algo que é fato: nós precisamos ser os guardiões dessa problemática, não são os políticos, somos nós, nós como cidadãos precisamos ter a noção de que só nós conseguiremos o mínimo de idoneidade pra começar a reorganizar a estrutura política do Brasil, nenhuma reforma foi feita e estamos sofrendo todos os percalços. O que vejo? Mais do que nunca , apesar que sinto que a tendência é cada vez mais manipular com a facilidade tecnológica a opinião publica, e fazer com que as inversões de valores fiquem perdidas então as pessoas não sabem quem é quem o que é o quê, é nos restabelecermos como cidadãos a vigilância. Eu só confio no povo a partir dessa consciência política de que nós somos os guardiões; eu não sou pessimista, mas acho que sem isso a gente não sai do lugar como deveria”.

Cidadania: “O que me tira da inércia é o coletivo, a necessidade como cidadã que eu quero participar e colaborar com uma mudança radical no nosso comportamento social. O que me mobiliza é o humano que existe em nós, o mais humano, as reações mais espontâneas, isso é impressionante, isso te sacode, você está viva, os sentimentos estão aí , você consegue se emocionar com as coisas, não virou uma pedra como julgava que você era . Eu quero manter essa noção espontânea de me emocionar com as mínimas coisas da vida, mas ao mesmo tempo ter uma consciência grande que só quando você se restabelece dentro dessas emoções é que você consegue fazer alguma coisa  de fato concreta por alguém, ou por várias pessoas”.

Morar fora: “Pra voltar a ser uma cidadã do povo sem ser reconhecida nas ruas, é um exercício que a gente precisa. Eu tenho consciência da minha profissão que é com o público, não tenho nenhuma neura, mas essa experiência de você ser um cidadão, sem os olhares pra você, é uma coisa que alimenta uma normalidade da vida que faz bem, então estou planejamento até mesmo pras crianças terem.. passar uma experiência num lugar do mundo onde eu seja uma pessoa normal”.

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