O número de mulheres que se matricularam em cursos de formação para a área cresceu 82%. De engenheiras a serventes, elas estão ocupando um ambiente tradicionalmente masculino
Março, 2018 – Em 1917, Edwiges Maria Becker Hom’meil entra para a história como a primeira engenheira do Brasil, formada pela Escola Polythecnica do antigo Distrito Federal, hoje a Escola Politécnica da UFRJ. Pois bem, a luta delas pelo seu espaço não é de hoje! E tudo indica que a administração feminina rende bons resultados nos canteiros de obras. Uma pesquisa do Sebrae aponta que a ascensão do número de mulheres na construção civil teve início em 2011. Desde então, vem conquistando cada vez mais profissionais, em 2006 eram pouco mais de 54 mil mulheres contratadas em obras. Em 2011, já eram mais de 109 mil mulheres com carteira assinada na construção de edifícios em todo o país.
Segundo dados do Ministério do Trabalho, em menos de uma década, o número de trabalhadoras na construção civil aumentou 65%. Em 2000, a quantidade de mulheres que integravam essa categoria era de pouco mais de 83 mil, entre 1,094 milhão de pessoas empregadas pelo setor. Já em 2008, esse montante subiu para 137.969. Essa tendência se intensificou ainda mais entre 2012 e 2014, quando o país viveu um boom imobiliário. Outro dado do Senai Goiás, divulgado em março de 2017, reforça bem essa mudança. Conforme o centro de formação profissional, entre 2010 e 2014, o número de mulheres que se matricularam em cursos ligados à construção aumentou 82%.
Um bom exemplo desse movimento é a engenheira Sarah Paiva, 28, hoje, à frente da obra do Residencial Persona Bueno By Brasal. Hoje, ela está à frente de mais de 200 operários no canteiro. “Entrei na empresa em 2011 como estagiária, conseguiu o cargo com muito esforço e dedicação, mostrando com meu trabalho que dava conta do recado. Apesar de serem muitos homens, mais de 90% da obra, nunca sofri preconceito, pelo contrário, sempre fui respeitada”, explica.
Outra mulher que integra a construção civil em Goiás há 6 anos é a rejuntadeira da Dinâmica Engenharia, Edilene Ferreira da Silva, 28. A profissão a ajudou a criar os dois filhos, e é algo do qual se orgulha muito. “Comecei na limpeza, mas logo passei para rejuntadeira. O pessoal prefere a mulher para esse trabalho por que temos mais paciencia, delicadeza e atenção para que saia um acabamento perfeito. Aprendi na prática e prefiro isso à limpeza, ganho mais”, explica. Hoje, na obra onde ela trabalha, o residencial Detail Vaca Brava, são 17 mulheres e 83 homens trabalhando. O esposo até tem ciúmes de ela trabalhar em um meio tão masculino, mas ela não lhe dá corda. “Quando nos conhecemos, eu já trabalhava no canteiro. Além disso, não há problema algum, nunca me senti desrespeitada”, conta.
Para o engenheiro e diretor técnico da CMO, Marco Aurélio, o ponto forte de ter mulheres nas obras, é por elas terem mais comprometimento com o resultado final, serem mais atentas e cuidadosa com os serviços. “A principal diferença entre as mulheres com relação aos homens é a atenção, não só no que ela vai executar, como na manutenção dos serviços que foram executados antes do dela, contribuindo para um produto final de mais qualidade”, explicou Marco Aurélio.
A CMO Construtora aposta na mulher por acreditar na capacidade e na qualidade dos serviços que elas executam. Por esse motivo a empresa investe em cursos profissionalizantes na área da construção civil para que essas “guerreiras” se tornem cada vez mais capacitadas. “As mulheres transformam o ambiente de obra com a simpatia, beleza e carinho, tornando um ambiente mais agradável”, garante Marco Aurélio.
A pedreira
O sexo feminino já não temem passar diante de um canteiro de obras cheio do sexo oposto: elas estão tomando o lugar deles, lá dentro. O trabalho é pesado, mas Ivonete Borges da Silva, 49 anos, não reclama. É como a única pedreira de acabamento da CMO construtora que entrou para a tradicional profissão exercida exclusivamente por homens, há alguns anos atrás, que são funções da construção civil. “Eu amo minha profissão e faço tudo com muito carinho e amor”, diz.
Casada há 25 anos, Ivonete é mãe de três filhos, avó de dois netos e sempre fez os serviços de acabamento de sua residência. “Lá em casa sou eu que faço toda a parte de acabamento, assentei o piso, instalei a bancada, coloquei a pia e se tiver que misturar uma massa ou instalação hidráulica é comigo mesma”, contou.
Ivonete relembra que quando entrou para o quadro de funcionários da CMO Construtora, há oito anos atrás como rejuntadeira. Mas após dois anos de empresa surgiu a oportunidade em fazer um curso de Pedreiro de Acabamento, no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que foi oferecido pela própria CMO. E ela não pensou duas vezes quando o mestre de obras ofereceu a oportunidade de se profissionalizar em uma área da construção civil.
“ Comigo não tem essa de não pegar no pesado, se for preciso eu pego saco de cimento, saco de argamassa, caixa de pisos. Eu percebi naquele momento que seria a oportunidade da minha vida em poder me especializar em algo que eu já gostava de fazer e é claro uma maneira de melhorar o salário e ser valorizada no mercado de trabalho”, relembra Ivonete.
A pedreira garante que todos os colegas de trabalho a respeitam e nunca se sentiu discriminada dentro do canteiro de obras. Ao contrário, até recebe gentilezas de alguns colegas, quando ela carregando algo muito pesado. Ela ainda brinca ao dizer que quando fala para as pessoas sua profissão todos acham que ela está brincando, mas garante que ficam admirados pela “garra” e esforço dela.
Além de Ivonete, a CMO possui outras 33 mulheres trabalhando nas obras. São 26 serventes, duas técnicas de segurança do trabalho, uma coordenadora de segurança do trabalho, três estagiárias e uma aprendiz.