PORTO VELHO (RO) – A tecnologia deve ser ferramenta para melhorar o mundo, incluir pessoas que vivem à margem do mercado, da sociedade e das políticas públicas, promover o bem-estar das populações em geral, e não apenas das elites. Mesmo aquelas pessoas que nasceram pobres têm poder de mudar o mundo. Há gênios nas classes sociais mais pobres, que precisam de oportunidade para se desenvolverem. Deles podem surgir muitas soluções.
A tecnologia pode fazer muito pelos excluídos, fornecendo educação, cultura e possibilidades de crescimento pessoal e profissional para participarem da vida em toda a sua plenitude. Deus criou o mundo para a abundância. A pobreza foi criada pelo sistema, que produz e acumula riquezas nas mãos de poucos. A tecnologia é uma ferramenta para criar abundância. Todos têm poder para impactar e transformar o mundo e suas comunidades, mesmo aqueles que nasceram em condições vulneráveis e sem acesso à educação e oportunidades.
Resumindo, esta foi a mensagem de Sharron McPherson, norte-americana e ex-executiva de Wall Street, que deixou os Estados Unidos para se dedicar ao continente africano, na abertura ontem (1) da Campus Party Rondônia, a primeira edição do evento na Região Norte brasileira, realizada no Sesi/RO em Porto Velho.
Atualmente ela é consultora, empreendedora social e investidora do consórcio Winde da África do Sul, do qual é co-fundadora e cuja sigla significa Mulheres em Infraestrutura, Desenvolvimento e Energia. Este consórcio agrega empresárias atuantes no setor de infraestrutura e energia, na maioria das vezes constituído só por homens. Cinco mil pessoas participam do Winde. Segundo Sharron, neste setor as mulheres reinvestem os recursos nas comunidades onde vivem, proporcionando mais melhorias e benefícios para a população do que fazem os empresários.
África e pontes
Mas a empreendedora social quase não teve tempo de falar a respeito deste trabalho incrível que vem desenvolvendo na África do Sul, país adotado por Sharron. Ela disse que prefere viver na África, onde a vida tem mais valor, grandes desafios e oportunidades de mudar o mundo. “Chegou a vez da África. A África entende de humanidade. Eles não matam, eles dividem o que têm”, afirmou. Esse continente vai mostrar ao mundo soluções tecnológicas e simples para as desigualdades sociais, educacionais e econômica, acrescentou.
A tecnologia deve estar comprometida em construir pontes para melhorar as condições de vida, especialmente de crianças e jovens nascidos em comunidades vulneráveis socialmente, que vão enfrentar um mundo novo, em termos de recursos tecnológicos e de trabalho.
Sharron também criticou: “qual a responsabilidade dos milionários do Vale do Silício com a pobreza? Não precisamos de jogos para ocupar os cérebros. Vamos construir melhores pontes”, disparou.
A palavra ‘ponte’ foi a mais usada na palestra, que encantou e foi aplaudida pelos participantes da Campus Party Rondônia. Várias pontes com diferentes estilos arquitetônicos foram mostradas por Sharron. “Nós todos temos poder de impactar e desenvolver nossas comunidades”, disse várias vezes, apontando as pontes como possibilidade de ligar dois lugares ou duas situações diferentes, estabelecendo fluxo entre elas.
Sem dinheiro
Contou que, quando tinha 14 anos, seus pais lhe disseram não dispor de dinheiro para pagar pela universidade. Ela estudou por meio de bolsas de estudo. Hoje, é doutora em Direito pela Universidade de Columbia (NY/EUA), com honras em Finanças pela Universidade de Toulon (La Garde, França), MBA em Economia pela Faculdade Wiliam & Mary(Virginia/EUA) e pós-doutorado na Universidade Singularity (Centro de Pesquisas da NASA, Vale do Silício, Califórnia, EUA). Trabalhou durante mais de 20 anos como advogada do setor financeiro em Nova Iorque.
Ricos, pobres e tecnologia
“Como construir pontes entre ricos e pobres?”, desafiou a plateia. “Eu trabalho com tecnologia, porque ela faz pontes entre as pessoas. Por quê pontes? Porque precisamos entender uns aos outros”, respondeu.
O setor de infraestrutura é fundamental para desenvolver as regiões onde vivem pessoas excluídas ou na pobreza, explicou. Apesar de não ser engenheira ou arquiteta, ela afirmou que trabalha com pontes.
A conectividade que a tecnologia digital permite constrói pontes e é uma grande aliada do desenvolvimento, com justiça social e sustentabilidade. O modelo de tecnologia que apenas facilita tarefas de quem vive no sistema, não vai melhorar o mundo. “Construir muros para separar ricos e pobres é insustentável”, afirmou. Disse com tristeza que lamenta os muros que estão sendo construídos nos Estados Unidos e na Europa, também, para se defenderem dos pobres.
Desaprender e reaprender
A África possui 200 milhões de crianças e jovens e tem mais celulares proporcionalmente ativos do que em outros países, inclusive entre os mais desenvolvidos, informou. Lembrou que, anos atrás, muitos investidores duvidavam se a tecnologia da telefonia móvel seria adequada para o continente africano, devido à pobreza. Hoje, há mais celulares ativos na África proporcionalmente do que em vários países, inclusive entre os mais desenvolvidos.
“Temos de desaprender certas histórias”, ressaltou. Apresentou a foto de uma jovem negra da Namíbia e desafiou quem saberia dizer quem era ela. Revelou que era uma jovem Doutora e pesquisadora de bioplásticos.
Também mostrou a foto de um ‘inventor’ africano que constrói impressoras a partir de resíduos eletrônicos. “Ele não tem dinheiro, não estudou e está impactando a sua comunidade positivamente”, exemplificou.
É preciso reaprender certas coisas sobre as possibilidades das pessoas e esquecer o que dizem as mídias, sugeriu. “A tecnologia pode conectar o cérebro e o coração e gerar abundância”, enfatizou Sharron.
Mais informações: http://brasil.campus-party.
Fonte: Imprensa/SEBRAE-MT