Novembro, 2018 – Lugar de memória de uma história que a humanidade não pode esquecer, o Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravos no Brasil e nas Américas, foi reconhecido como Patrimônio Mundial em 2017. No próximo 23 de novembro, sexta-feira, na semana da Consciência Negra, o Seminário Internacional Cais do Valongo Patrimônio Mundial irá marcar a cerimônia de entrega do título conferido pela Unesco e debater os desafios da gestão e interpretação do sítio, no Museu de Arte do Rio (MAR).
Desde que o Cais do Valongo foi revelado em 2011, durante escavações nas obras da zona portuária do Rio de Janeiro, o sítio arqueológico trouxe grandes descobertas. Os únicos vestígios materiais da chegada dos africanos no país estavam aterrados na região portuária, e foram expostos ao mundo. Estima-se que, por ali, passaram cerca de um milhão de africanos escravizados, somente no século XIX. “O reconhecimento de sítios sensíveis como esse, coloca em evidência a necessidade de compartilharmos nossa experiência em prol de uma visão mais humanista da sociedade global”, reflete a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa.
Com a participação de especialistas internacionais em sítios de memória sensível, o seminário fará uma reflexão sobre a necessidade de se avançar no processo de gestão compartilhada desse Patrimônio Mundial. Uma realização da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, em parceria com o Iphan e a Representação da Unesco no Brasil, o evento também irá discutir a construção do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, na zona portuária, dedicado à escravidão e à herança afro.
Sítios de memória sensível
Durante o Seminário Internacional, o diretor do Memorial AcTe, Thiérry L’Etang irá debater sobre o caso do Centro de Expressões e Memória do Tráfico de Escravos e Escravidão, em Guadalupe, França. Os especialistas Deirdre Prins-Solani e Vuyo Mfanekiso apresentarão o museu Robben Island, complexo prisional na Cidade do Cabo, África do Sul, onde estiveram presos líderes do movimento anti-Apartheid, inclusive Nelson Mandela, por 27 anos. A mesa será mediada por Cristina Lodi, coordenadora de criação do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira.
A programação também conta com uma apresentação do caso do monumento African Burial Ground, construído sobre um imenso cemitério de escravos em Nova Iorque, EUA. Com a mediação diretor de Cooperação e Fomento do Iphan, Marcelo Brito, a mesa terá o especialista em interpretação de sítios Marcelo Martín, professor da Universidad Pablo de Olavid, em Sevilha, Espanha.
O caso do circuito na zona portuária do território conhecido como Pequena África, no Rio de Janeiro, será apresentado por representantes das instituições afro-brasileiras Instituto Pretos Novos, Quilombo da Pedra do Sal, Centro Cultural Pequena África, Remanescentes de Tia Ciata e Afoxé Filhos de Gandhi. O público poderá conhecer os resultados e desafios do plano de gestão do sítio arqueológico Cais do Valongo, a partir da experiência da secretária de Cultura do Rio de Janeiro, Nilcemar Nogueira; a historiadora Martha Abreu; e a presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), Claudia Escarlate.
O novo projeto de conservação do sítio arqueológico do Valongo, que contará com investimento de US$ 500 mil, em parceria com o consulado dos EUA, será apresentado por Ricardo Piquet, diretor do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). No encerramento, haverá ainda a posse do Conselho Consultivo do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira.
A participação no evento é aberta ao público, com inscrições gratuitas e limitadas. Elas podem ser feitas até o dia 20 de novembro, pelo e-mail seminariointernacionalvalongo@ gmail.com
Fonte: Imprensa/IPHAN