Setor da construção civil enfrenta a crise inovando

Por Arnaldo Francisco Cardoso

Novembro, 2018 – Os números sustentam a avaliação de que o setor da construção civil no Brasil é um importante termômetro da economia nacional e, mesmo diante de uma crise que já se arrasta por cinco anos, o setor tem dado mostras de maturidade e capacidade de inovação em produtos e processos.

A construção civil representa 6,2% do PIB Nacional, 34% da indústria nacional, soma 176 mil estabelecimentos comerciais e 13 milhões de empregos de diferentes qualificações – só de profissionais com títulos acadêmicos em engenharia civil são 273 mil, conforme cadastro do Confea.

O ano de 2018 começou com expectativas positivas depois de 4 anos consecutivos de queda nas atividades do setor (-2,1% em 2014, -9% em 2015, -5,6% em 2016 e -5% em 2017) mas, próximo de seu encerramento, vê as expectativas de retomada do crescimento mais uma vez adiadas.

As mais variadas lideranças do setor avaliam que uma retomada de investimentos privados dependerá de uma combinação de fatores como: confiança na política macroeconômica, melhora na renda da população para elevar a demanda por imóveis e reformas, e melhora nas condições de financiamento.

Quanto ao investimento público, espera-se que uma reforma fiscal e administrativa possam resultar, entre outras coisas, num aumento do investimento (com ou sem parcerias privadas) em setores como saneamento básico, habitação, infraestrutura para transporte de carga e mobilidade urbana.

É importante lembrar que no setor da construção civil é elevado o prazo de maturação do investimento, ou seja, para que sejam sentidos os efeitos positivos no conjunto da economia e, portanto, faz-se necessária a determinação, agilidade e qualidade nos processos decisórios e de implementação de medidas por parte do governo.

Organização e inovação em meio a crise

Nestes anos de crise, a maturidade do setor da construção civil no Brasil tem se mostrado por meio de sua organização (entidades representativas, empresários e profissionais), capacidade de empreender e inovar, sendo muitas as demonstrações disso.

Uma parceria entre o Sinduscon-SP e a FGV tem gerado os relatórios de Sondagem Nacional da Indústria da Construção, produzidos trimestralmente, que apresentam dados de desempenho de empresas construtoras e perspectivas para o setor, constituindo-se em importante ferramenta para gestão e apoio na tomada de decisões.

Outra iniciativa do setor é o Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade que já se encontra em sua 22ª edição. A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) organiza o Prêmio em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e tem por objetivo “reconhecer, premiar e divulgar soluções inovadoras que contribuam para a modernização da construção civil brasileira.” A cada edição são apresentados e premiados trabalhos em 5 categorias: Materiais e Componentes; Sistemas Construtivos; Gestão da Produção e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); Pesquisa Acadêmica, e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC’s).

Ainda sobre a preocupação com a inovação e sustentabilidade o Sinduscon, com iniciativas em âmbito estadual e nacional, organiza eventos como a Vitrine da Inovação e a oficina Gestão da Inovação, Sustentabilidade e Novos Modelos de Negócios na Construção, tendo por objetivo informar e capacitar profissionais para a gestão da inovação com atenção aos princípios da sustentabilidade, visando ganhos de produtividade e competitividade.

A percepção da importância da qualificação e capacitação dos profissionais atuantes nos vários segmentos do setor tem orientado muitas ações, visando elevar o nível e potencialidades do setor.

Um olhar sobre as inovações na construção civil em âmbito internacional nos coloca hoje diante de realidades desafiadoras para as quais o setor no Brasil está atento, como é o caso do incremento do uso de impressão 3D e de estruturas modulares e pré-fabricadas; utilização de drones para pesquisa e monitoramento de áreas de difícil acesso; crescente utilização da tecnologia BIM desde o desenvolvimento de projetos até o gerenciamento da construção; utilização de simuladores de realidade virtual para treinamentos e prevenção de acidentes; inclusão da chamada Internet das Coisas (IoT, Internet of Things) em variadas atividades nos canteiros de obras, tudo isso acompanhado de uma constante preocupação com a sustentabilidade ambiental, evitando ou mitigando impactos negativos sobre o meio.

Novos produtos e certificações

Outras ações significativas voltadas para a elevação contínua dos padrões do setor da construção civil, considerando o vasto leque de empresas integrantes, são os processos de certificações nacionais e internacionais de produtos.

Como exemplo disso, merece destaque as ações do setor cerâmico, especialmente do segmento de pisos e revestimentos, conduzidas pelo CCB – Centro Cerâmico do Brasil, localizado em Santa Gertrudes, interior de São Paulo.

Particularmente, no desenvolvimento e certificação das placas cerâmicas de grandes formatos, que nos últimos anos tem recebido atenção especial dos produtores nacionais e internacionais e ganhado espaço de destaque nas mais importantes feiras do setor, o CCB recebeu entre os dias 10 e 14 de novembro representantes das mais importantes fabricantes de pisos e revestimentos cerâmicos do mundo em visita aos seus laboratórios, antecedendo a Reunião do Comitê Internacional da ISO TC 189 – Ceramic Tiles Comitee, que tem por missão revisar e elaborar normas internacionais do setor.

A superintendente do CCB Ana Paula Menegazzo anfitriã do evento e chefe da delegação brasileira expõe a importância e papel do país no evento “Buscamos ser referência nacional e internacional em qualidade e inovação tecnológica na cadeia produtiva da indústria cerâmica e no auxílio no desenvolvimento de normas internacionais junto ao ISO/TC 189.”

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de pisos e revestimentos cerâmicos e tem seus produtos exportados para países dos cinco continentes.

O setor tem na Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica) a principal representação institucional do setor cerâmico no país. No âmbito estadual de São Paulo a representação é feita pela Aspacer (Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento). O CCB (Centro Cerâmico do Brasil) tem como objetivos “desenvolver e implantar normas técnicas e certificar a qualidade dos produtos cerâmicos e dos sistemas de gestão (ISO 9000 e ISO 14000), bem como atuar como uma entidade tecnológica do setor da construção civil”.

As realizações mencionadas ao longo do artigo e muitas outras são demonstrações eloquentes do alto nível de organização e desenvolvimento tecnológico do setor da construção civil no Brasil, que lhe permite atravessar crises inovando e se fortalecendo. A organização de setores produtivos é condição essencial para um projeto de desenvolvimento nacional com potencial de gerar prosperidade para o conjunto da sociedade, isto pode ser observado nas sociedades mais avançadas do mundo.

Arnaldo Francisco Cardoso é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Desenvolve pesquisa sobre a cadeia produtiva da cerâmica no Brasil.

 

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