Fevereiro, 2020 – Os especialistas em urbanização são categóricos em afirmar que o cenário de enchentes, como as que atingiram cidades como São Paulo e Belo Horizonte, irá se repetir nos próximos anos, caso o poder público continue a utilizar como resposta à opinião pública as canalizações de córregos e rios.
A principal solução levantada pelos especialistas é a renaturalização de rios e córregos, que nada mais é do que a volta às características naturais do rio, procurando estabelecer um equilíbrio entre os limites e peculiaridades de um ambiente urbanizado e um ambiente mais natural.
Países como Holanda, Japão, Coreia do Sul e Alemanha já entenderam o recado e estão correndo para mudar o modelo urbano dos seus grandes centros, diz o arquiteto e professor da EAD Unicesumar, Fernando Santana. Em Tóquio, por exemplo, o governo criou grandes reservatórios capazes de armazenar bilhões de metros cúbicos de água e a sua utilização em fins não potáveis.
“Se a Holanda não tivesse desenvolvido soluções viáveis, as cidades já teriam sido tomadas pela água. O que o governo holandês propôs foi um reordenamento territorial, com o recuo nos diques de contenção, ampliando as áreas de alagamento. O governo aplicou cerca de 50% dos seus investimentos nas medidas de enfrentamento das variações climáticas, preocupados com essa realidade”, afirma Santana.
O modelo meteorológico mudou muito na última década e, segundo o professor, na pressa de se dar uma resposta ágil à população contra as enchentes, o poder público optou pela via mais rápida e não necessariamente mais barata: as canalizações e retificações.
“Com a canalização desses cursos de água, há uma diminuição da vegetação que planejamos ao redor do curso em sua proteção. Consequentemente existe um aumento da impermeabilização do solo gerado pelas construções que surgiram em loteamentos devido ao adensamento urbano”, diz.
O projeto Rios & Ruas, criado pelo geógrafo Luiz de Campos Júnior e pelo arquiteto e urbanista José Bueno, estima entre 300 e 500 os rios soterrados pela urbanização.
Já de acordo com a Superintendência de Desenvolvimento de Belo Horizonte, dos 654 km da malha fluvial do município, 208 km estão escondidos sob ruas, avenidas e construções.
Com a renaturalização, atrelada ao plano diretor das cidades, é possível promover a integração das margens dos rios e lagos, com parques lineares, áreas de agricultura. Segundo Santana, é importante que os rios sejam recuperados antes e que a mudança envolva a colaboração de engenheiros, arquitetos, gestores ambientais e a população no entorno dos córregos e rios.
“Precisamos chamar a população a assumir responsabilidade pelo meio em que vive. A preservação desses cursos deve ser abarcada pelos planos municipais e suas políticas, de modo que a população compreenda a importância enquanto estrutura urbana. Caso contrário, vamos precisar de bombas cada vez mais potentes para tirar a água das garagens de edifícios e casas”, alerta o professor da EAD Unicesumar.
Fonte: Unicesumar