Outubro de 2020 – Em apenas quatro anos, quase 41.500 pessoas perderam seus empregos em Campos dos Goytacazes e Macaé, no Norte Fluminense. Isso equivale a toda a população de São Francisco de Itabapoana, por exemplo, na região da Costa Doce do Rio de Janeiro. Entre 2015 e 2019, foram perdidos 11.598 empregos formais em Campos e 29.868 empregos formais em Macaé, como apontam dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho.
“O baque é grande. Há anos, vimos o comércio em Campos sofrer”, lamenta Leonardo Castro de Abreu, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (ACIC), que estima o fechamento de cerca de 1.000 lojas no comércio de Campos nos últimos dois anos, antes da pandemia de Covid-19, a maioria na área central. Segundo ele, as principais causas são as demissões de profissionais da Petrobras, somadas ao período em que o Estado e Prefeitura ficaram sem pagar o funcionalismo.
De 2015 a 2019, Campos e Macaé perderam 21.143 postos de trabalho formais somente nos setores de comércio e serviços, sendo 5.156 no comércio e 15.987 nos serviços. “Demissões em massa aconteceram por aqui, seja por causa da Petrobrás ou de outras áreas e ainda em função da queda dos royalties, que incide na diminuição de investimentos do poder público em áreas que possam alavancar a economia”, comenta a liderança comercial.
De fato, a arrecadação de ISS também acompanhou a crise econômica no Norte Fluminense: em 2014, Campos arrecadou R$ 110 milhões, contra R$ 87 milhões em 2019; já Macaé arrecadou R$ 612 milhões em 2014, contra R$ 491 milhões em 2019. “A pessoa desempregada começa a cortar, deixa de comprar calçados, roupas, daí segue para o lazer, ao ponto de diminuir até mesmo o supérfluo no supermercado”, afirma Abreu. Na Bacia de Campos, somente a Petrobras cortou 25% dos empregos de 2014 a junho de 2020, um total de 4.282 postos de trabalho. O impacto do desemprego no setor de petróleo foi forte sobre os demais setores da economia das duas cidades.
Petrobras fica na Bacia de Campos
Esse cenário de crise social e financeira na região é resultado, principalmente, da política de desinvestimentos da Petrobrás na região nos últimos anos, que concentrou seus recursos nas novas áreas do pré-sal, fora da Bacia de Campos, fechando poços no Norte Fluminense. Esse é o alvo principal da campanha ‘Petrobras fica na Bacia de Campos’, deflagrada pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF) para mobilizar lideranças empresariais e políticas da região, além da sociedade, pelo retorno dos investimentos da companhia na Bacia de Campos.
“É um absurdo a Petrobrás vender ativos lucrativos e já amortizados, como está fazendo agora com a venda dos campos dos campos de Albacora e Albacora Leste, por exemplo, que têm capacidade de dar retorno financeiro para a empresa e para os cofres públicos. São campos que geram milhares de empregos, diretos e indiretos. São mais de 1.500 trabalhadores diretamente impactados. Albacora e Albacora Leste são campos gigantes, que têm reservatórios de pré-sal, um patrimônio brasileiro, e estão sendo colocados à venda num momento de baixa do preço do petróleo. Quem comprar vai comprar a preço mais baixo do que o que as áreas valem”, explica Tezeu Bezerra, coordenador geral do SindipetroNF.
No início de outubro, o sindicato ingressou com uma ação civil pública contra a negociação de plataformas da Petrobras na Bacia de Campos, entre elas a P50, responsável pela autossuficiência do Brasil, na área do petróleo e gás. “Foi na Bacia de Campos que a Petrobras bateu sucessivos recordes de exploração e produção em águas profundas, como foi com o campo de Roncador, hoje o maior produtor de petróleo da bacia no Norte Fluminense”, afirma Bezerra. Há cerca de dois anos as plataformas que atuam nos campos de Vermelho, Pargo e Carapeba, na Bacia de Campos, foram vendidas à Perenco. Na ocasião, cerca de 90% dos funcionários destas plataformas foram demitidos.
Ações integradas
Na semana passada, a entidade que representa cerca de 15 mil trabalhadores da região enviou uma Carta Compromisso aos candidatos a prefeito de Campos dos Goytacazes e Macaé para buscar apoio político contra a venda de ativos da empresa. Em 16 de outubro, foi lançada uma petição pública para engajar a população da região à campanha “Petrobras Fica na Bacia de Campos”, que ficará disponível em plataforma online até o fim de novembro. O abaixo-assinado, que já conta com quase 3.000 adesões, será entregue à diretoria da Petrobrás e autoridades públicas da região (prefeitos de municípios impactados pela atual política de desinvestimentos da Petrobrás), além do governo do Estado, deputados estaduais e federais do Rio de Janeiro.
Além do hotsite e de ações nas redes sociais do SindipetroNF (Facebook, Twitter e Youtube), a campanha “Petrobras Fica na Bacia de Campos” está sendo divulgada em anúncios publicitários em alguns dos mais influentes veículos de comunicação em diversos pontos de outdoors de Campos dos Goytacazes, Macaé e região. Uma newsletter semanal também está sendo distribuída a petroleiros, comerciantes e empresários da região para disseminar as principais mensagens da campanha, uma iniciativa contra à privatização e a redução de investimento da Petrobras na região, que tem resultado na piora dos indicadores de arrecadação e emprego e renda no Norte Fluminense.
Em 19 de outubro, a entidade promoveu a primeira de uma série de lives que vai acontecer três vezes por semana (segundas, quartas e sextas, sempre a partir das 18 horas) até o dia 13 de novembro com lideranças dos trabalhadores, empresariais, poder público, sociedade civil, economistas e especialistas da área do petróleo e gás, para discutir os impactos e as consequências da política de desinvestimento da Petrobrás na Bacia de Campos.
Fonte: Imprensa/SindipetroNF)