O Brasil é o terceiro produtor de frutas do mundo, mas no mercado interno o consumo ainda é baixo.
O Mercado foi o tema do segundo dia do Simpósio Agrodigital: Panorama e Desafios da Fruticultura, evento promovido pelo GELQ (Grupo de Estudos “Luiz de Queiroz”) 2022, ligado à Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP) que reuniu produtores, pesquisadores e acadêmicos no Ano das Frutas e Legumes, instituído pela FAO-ONU.
Associados à PMA Brasil, entidade que representa a indústria de Flores, Frutas, Legumes e Verduras, foram palestrantes e mostraram o cenário dos desafios e oportunidades, o desenvolvimento de uma região para a fruticultura, a modernização de gestão, a inovação tecnológica no campo, exemplo de sucesso na construção de marca e as demandas do varejo.
A representante da Produce Marketing Association (PMA) no Brasil, Valeska de Oliveira Ciré, apresentou o panorama do caminho das frutas – do campo ao supermercado.
“100% da população depende da agricultura para sobreviver, 925 milhões de pessoas estão em condições de fome e desnutrição. A fruticultura é essencial para a saúde. Entre os desafios e tendências do setor estão a segurança do alimento, a rastreabilidade, a sustentabilidade e a educação do consumidor. Ao pensar a rastreabilidade é importante ter uma visão ampliada: dos Insumos ao Consumidor final. Boa parte do processo de rastreabilidade está associado ao nível de resíduos nos alimentos. Claro, não é só isso, mas a gente também entende que na cadeia inteira os distribuidores e indústrias de insumo devem fazer parte deste processo, é preciso acompanhar o que estão fazendo. Na prática essa parte inicial da cadeia têm uma relevância fundamental nas boas práticas agrícolas quanto também no manejo correto daquilo que está sendo proposto nas fazendas. Envolver a Academia, os Produtores, Fornecedores de Serviços/Produtos, o Varejo e os diferentes perfis de Consumidores são mandatórios para promover o aumento do consumo de FFLV”, disse Valeska de Oliveira Ciré.
Luiz Baruzzi, conselheiro da PMA no Brasil e executivo da Rede S. Paulo Supermercados Associados, com 201 lojas em 60 municípios, falou sobre a cadeia do setor de FLV e o desafio de vender mais. “É preciso ter uma visão sistêmica do setor, entender os caminhos do agronegócio e estudar projetos que melhorem a experiência do consumidor nos canais de vendas: do atacarejo às lojas especializadas e o e-commerce. Os supermercados são responsáveis por metade da venda de FLV. Um dos desafios é o empobrecimento da população e uma tendência é a consolidação da marca do produtor para fidelizar ainda mais o consumidor”, analisa.
Sustentabilidade economicamente viável
A preocupação com a sustentabilidade, a redução do uso de água, uso de tecnologias de adubação e controle de pragas, fazer o fornecimento direto ao varejo e estar perto do consumidor final estão no radar da Kuará Frutas, localizada no Vale do São Francisco, maior exportadora de frutas do Brasil. A região não sofre com a crise porque a fruticultura prospera, gerando 1 milhão e 200 mil empregos e faturamento de R$ 2 bi/ano. A produção de uva, por exemplo é cultura de clima frio com uma safra. Em Petrolina, no Vale do São Francisco, conseguimos ter duas safras da mesma planta (abril-maio e setembro-outubro). Uma vantagem comercial enorme para a exportação.
Arnaldo Eijsink, CEO do Grupo JD, destaca que é importante saber qual a tendência de demanda do consumidor para adequar estratégias. “É preciso estar um passo à frente e surpreender o consumidor final. Um exemplo é a preocupação com a emissão de carbono. Conseguimos zerar o carbono, compensando com compostagem. Isso quer dizer que a uva, no nosso caso, já é carbono neutro. Investindo em inovação e novas variedades de uva, como as frutas sem semente. Aliando os conhecimentos da EMBRAPA de Petrolina e cruzamentos genéticos, temos cerca de 20 variedades especiais. Todo ano tem lançamento de até cinco variedades, e os laboratórios trabalham, sob demanda dos produtores, variedades resistentes às chuvas ou doenças. A produtividade aumentou muito. O plantio no mundo aumentou muito e precisamos ser competitivos nesse mercado, inclusive com as certificações nacionais e internacionais”, explica.
Construção de marca é tendência do FLV
Um exemplo de sucesso da fruticultura brasileira é a Itaueira, um dos maiores produtores de melão do país, reconhecido pela marca Rei. Caito Prado, diretor da Itaueira, ressalta que quem manda é o consumidor: “O investimento da produção é composto de variáveis como alta tecnologia, logística e promoção nos pontos de venda. Nosso propósito é ter uma fruta de sabor. O varejo sabe que preço é importante, mas a qualidade é o que atrai o consumidor. Nós respeitamos a natureza, o solo, a água e as abelhas, que proporcionam sabor à nossa fruta. Sempre dizemos que na nossa empresa, o verdadeiro Rei é o consumidor”.
Fruticultura 4.0
E para mostrar o futuro da indústria de FFLV, o diretor presidente do Sitio Barreiras e um dos maiores produtores de banana do país, Fábio Regis falou sobre o conceito e a aplicação da Fruticultura 4.0, a modernização da agricultura, que é mais que usar tecnologia, é incluir a sustentabilidade no processo: a biodiversidade, a redução de água e do desperdício.
“O foco é a fruticultura baseada em tecnologias modernas, dados estatísticos, uso de drones para monitoramento, correlação das variáveis que permitem ações rápidas de manejo, uso de defensivos biológico e a compostagem aeróbica para melhor nutrição do solo e desenvolvimento do produto. Temos parceria com a Universidade de Viçosa e os estudos permanentes ajudam muito no acompanhamento do equilíbrio entre natureza e ambiente de produção com a introdução da diversidade ao monocultivo. Conseguimos ser eficientes no consumo de insumos”, esclarece Fábio Regis.
As pessoas que trabalham no campo representam 40% do custo total e o investimento na gestão humanizada é essencial. “Não só produzimos produtos de alta qualidade, mas um bom local de trabalho e desenvolvimento de pessoas. Uma gestão moderna visa o bem-estar das pessoas que trabalham no campo ou no operacional, com ajuda de tecnologia, mas vendo o colaborador como integrante do ambiente em contínua evolução”, destaca Fábio Regis.
A cadeia de FFLV está pronta para promover o aumento do consumo de produtos frescos e contribuir para melhor nutrição da população.
Fonte: PMA Brasil