Março, 2022 – O trabalho remoto e/ou híbrido desencadeou um aumento da síndrome Burnout e acelerou a deterioração da saúde mental para 45% dos líderes da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) ao redor do mundo. Os dados são da pesquisa realizada pelo Grupo Adecco, que ouviu 15 mil pessoas em 2021. Esse é apenas um número dentre tantos outros recortes dessa síndrome que virou uma “pandemia dentro da pandemia”.
Meio milhão de pessoas pedem demissão todo mês no Brasil, ainda que tenhamos em torno de 13 milhões de pessoas desempregadas no país. O que está acontecendo? O burnout é um fenômeno ocupacional, e que ocorre não só pelo excesso de trabalho, mas pela maneira como as relações são construídas no ambiente profissional.
“O assédio moral e os constrangimentos são a segunda maior causa de dano mental nas empresas, como já mostram alguns estudos. E as profissionais mulheres são quase três vezes mais acometidas pelo burnout do que os homens”, pontua Ana Tomazelli (@anatomazellibr), fundadora da ONG Ipefem – Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino (@ipefem). O Instituto acaba de lançar o IRA – Índice Regional de Assimetrias | Imobiliário & Construção – São Paulo Edition, em parceria com a iniciativa Mulheres do Imobiliário, com a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (ASBEA-SP) e a InfraWomen Brazil.
“O Índice Regional de Assimetrias é uma pesquisa, um mapeamento que tem o objetivo de verificar se a exposição a relações de trabalho baseadas em microagressões tem relação direta com o nível de burnout das mulheres no mesmo ambiente profissional”, explica Ana. “Quando a gente fala de problemas em saúde mental, de burnout, existem diversas causas e uma delas está relacionada a assimetrias de gênero, ou seja, relações que não são simétricas, equilibradas. Essas dinâmicas em desequilíbrio vão atravessar pontos identitários, acionar gatilhos individuais, e, aí, surge um problema crônico de adoecimento do ambiente, do grupo”.
E não adianta só incentivar as pessoas a fazer terapia, por exemplo. A pessoa, sozinha, não tem como resolver o problema. “É como se ela estivesse com o pé machucado por um prego: ela cuida, passa remédio, mas, antes de cicatrizar, volta para o mesmo lugar e pisou no prego enferrujado de novo. Então, além de resolver o pé, o que nós precisamos é resolver o prego”.
Pesquisa quer estimular soluções
Segundo a pesquisa Mulheres do Imobiliário (@mulheresdoimobiliario) realizada em 2021, mais de 60% das mulheres que trabalham no setor sentem que são interrompidas e desconsideradas nas suas decisões. Além disso, 87% das mulheres são decisoras na compra do imóvel, mas não são as mais procuradas em uma possível negociação.
“Foram esses primeiros resultados que me fizeram sugerir que o Ipefem começasse pelo setor”, afirma Elisa Tawil (@elisatawil), fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário e autora do livro Proprietárias – A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário. “Achei a provocação muito pertinente; trazer a ira, a raiva pro centro da mesa, mas de um jeito construtivo”.
A sigla do projeto – IRA – é uma provocação sobre a indignação. “Sem indignação, a gente não levanta pra mudar nada”, ressalta Ana. “Até o Dalai Lama tem um livro chamado RAIVA, então a gente também pode sentir – e agir.”
A pesquisa é gratuita, fica aberta até o dia 10 de abril de 2022 e pode ser acessada aqui. Podem responder mulheres e pessoas de identidades não-masculinas que trabalhem no setor imobiliário e de construção no Estado de São Paulo. Isso inclui a cadeia de todo o segmento, incluindo imobiliárias, corretoras, construtoras, incorporadoras, fábricas e lojas de materiais e acessórios de construção, profissionais do direito imobiliário, arquitetura e toda a cadeia envolvida. Quem responder a pesquisa ganha a inscrição de um workshop com representantes do setor que vão apresentar os resultados e debater planos de ação em conjunto, no mês de maio.
“Esse segmento foi escolhido pela (des)proporcionalidade entre masculino e feminino não somente no volume, mas, também, na distribuição das cadeiras de decisão e comando. A ideia é articular o setor como um todo, para que possamos coordenar esforços e ações afirmativas em bloco”, resume Ana.
Os resultados do Índice Regional de Assimetrias serão divulgados no final de abril, no evento liderado pelo Mulheres do Imobiliário – o SOMA, com uma palestra dedicada ao tema. O relatório com todos os números também fica disponível, como as demais pesquisas do Ipefem, gratuitamente para baixar. Ana completa: “Essa é uma informação de interesse público e precisa circular, o ESG não é só uma responsabilidade do CNPJ – todo CPF também precisa agir. Fica o nosso convite para que as instituições e empresas do setor se aproximem, abram as portas e nos ouçam. Não vão se arrepender”.