Depois das usinas hidrelétricas, as usinas solares e eólicas são as principais responsáveis pela energia renovável gerada no Brasil. Somadas, essas duas fontes ocupam o segundo lugar na matriz energética e são responsáveis pela produção de 13,4% da energia consumida no país, segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME). No mercado há cerca de 15 anos, as usinas de geração de energia solar e eólica começam a passar pelo fim da vida útil de seus equipamentos e apresentar incidentes como corrosão, falhas mecânicas e estruturais e problemas de aterramento.
Esses problemas têm se mostrado um desafio para fabricantes, operadores e proprietários e acendem um alerta: para caminhar rumo à geração de energia cada vez mais renovável no Brasil e atingir as metas de sustentabilidade estabelecidas internacionalmente, é preciso vencer as dificuldades técnicas de manutenção vivenciadas no setor.
Principais problemas nas usinas solares e eólicas
Nas usinas eólicas, as principais falhas encontradas por equipes do Lactec são as quebras de rolamentos dos redutores, que ficam entre o gerador e o rotor (parte móvel), e problemas de lubrificação de peças, um processo que é feito manualmente.
Já nas usinas solares, as principais queixas são a corrosão de equipamentos; problemas no processo de aterramento, que evita acidentes elétricos; trincas em painéis solares e empenamento de estruturas metálicas que unem esses painéis.
Segundo Carlo Giuseppe Filippin, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do centro de pesquisa e tecnologia Lactec, esse cenário não foge do esperado de uma forma de geração de energia considerada nova. “É um caminho natural. Estamos em um ponto de inflexão e é o momento ideal para tomar as rédeas disso”, afirma.
Na análise do Lactec, diversos são os fatores que contribuem para as disfunções detectadas. Entre os principais, estão a dificuldade de olhar o funcionamento dos parques de energia de forma menos segmentada e mais sistêmica, a ausência de uma gestão de ativos que permita acompanhar o desempenho das usinas e o ritmo rápido com que os equipamentos são atualizados e novos são lançados.
A importância da gestão de ativos
Filippin destaca que implementar a gestão dos ativos da usina desde o primeiro dia de funcionamento é fundamental, uma vez que a maioria das falhas não ocorre por desrespeito às normas, mas pela impossibilidade de analisar parâmetros anteriores e poder prever possíveis problemas e realizar manutenções periódicas. “É preciso saber onde, quando e por que vai falhar. Se em um parque eólico, por exemplo, você detecta uma oscilação no rotor, pode ser que seja um problema e pode ser que seja uma oscilação sazonal. Mas só é possível saber se esse monitoramento tiver sido feito”, pontua.
A falta de uma gestão de ativos eficiente dificulta também o trabalho de especialistas chamados para realizar o conserto dos equipamentos, que encontram uma escassez de dados sobre o funcionamento da usina e os problemas apresentados pelos geradores de energia. “O Lactec realiza esse serviço em usinas solares e eólicas em todas as regiões do Brasil e, como trabalhamos de forma multidisciplinar, isso ajuda a compreender as falhas com mais facilidade. Mas, muitas vezes, a manutenção ocorre de forma muito segmentada e falta uma visão holística do processo”, conclui.