Por Well Castro
Me perdoem os aeronautas! Mas há dez anos que esse modelo de “greve”, antes, chamado de paralisação, tinha eficácia e melhores resultados. Existia esse árduo conflito entre sindicatos laboral e patronal, junto a uma comunicação da grande mídia para manipular a opinião pública contra o movimento de trabalhadores. Ainda mais o setor do turismo super aquecido pela alta temporada e, aviões, navios, ônibus saíam abarrotados de passageiros em portos, aeroportos e rodoviárias. A conjuntura favorecia empresários, atendendo um público, economicamente, com seu poder de consumo, porém faltara à tripartite, a satisfação das categorias aeroviárias e aeronauta.
Na busca por aumento salarial, reposição de perdas econômicas, e melhoria nas condições de trabalho, os registros mostram o êxito das conquistas, já a partir das vésperas da primeira posse de Dilma Rousseff , 2010. Trabalhadores terceirizados em empresas de “handley” tinham como estratégia a paralisação de seus serviços a começar das 03:30a.m Voos nacionais que tinham equipes para decolagem de aeronaves previstas para às 6h eram paradas. Quem não quisesse aderir, dobrava o turno, ilegalmente, na aviação. Havia quem “furasse”. Mas a diretoria estava presente na base para impossibilitar setores mais complicados como mecânicos de aeronaves e os próprios aeroNautas. O despacho através do check in mantinha a porcentagem imposta pelo Tribunal Superior do Trabalho . A estimativa de 30% em funcionamento, por se encaixar numa atividade pública, havendo serviços emergentes.
O problema foi que, ao passo que o movimento crescia, durante os anos, outras divergências internas também surgiam. A direção do maior sindicato dos aeroviários e aeroviárias sofria mais oposições nos estados. AeroNautas começavam uma nova restruturação na composição da direção sindical. E a primeira federação de trabalhadores da aviação civil quase era extinta. Mesmo com as mudanças no cenário e a ascensão da categoria aeronauta, a partir do processo de impeachment da Presidência da República, todos os setores, não somente da aviação, como também todo ramo de transportes, sofreram ataques trabalhistas. A classe trabalhadora brasileira teve a CLT flexibilizada, e os sindicatos fragilizados em suas Convenções Coletivas de Trabalho. O imposto que era cobrado a favor dos sindicatos e até ao FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador foi destruído. Um cenário era aprontado para a mudança de um governo mais propício aos interesses patronais. Lula é preso. Impossibilitado de concorrer as eleições contra Bolsonaro e demais candidatos, o caminho do país ficava mais predisposto a uma economia, de cunho ultra-liberal, bem pior que tempos sombrios da ditadura militar. Mas para isso, houve uma preparação. Após o golpe, houve a aprovação da terceirização para serviços fins, e aprovações inescrupulosas de reformas trabalhista e previdenciária. De Temer a Bolsonaro o governo reacionário desmanchou até a força de fiscalizações de combate ao trabalho escravo. E como se não fosse o bastante a tragédia, ainda teve enfrentamento à crise da pandemia (Covid-19).
Num momento em que o mundo via a necessidade da atuação de profissionais de saúde, em estado de guerra, categorias aeroviária e aeronauta se ajustavam para atender vôos que buscavam mantimentos, equipamentos de trabalho, e assim que possíveis, vacinas. Carregando e desembarcando equipamentos, suprimentos Sofrendo perdas imateriais, como a vida de companheiros de jornada. Enquanto, isso a classe trabalhadora assistia um sujeito na Presidência da República, tratar um período mortífero como um simples “resfriadinho”.
Chamo atenção desses fatos, porque todo esse dever que fora exercido, aeronautas e aeroviários tiveram mais do que comprometimento. O setor também foi mais do que necessário cumprir uma função para salvar vidas, o transporte aéreo. E acredito que a oportunidade de explorar esse protagonismo, poderia ter sido mais impulsionado pelas entidades laborais através das campanhas salariais. Em vias de precariedade e constante ameaças no ambiente de trabalho, a vitória de Lula, neste cenário, onde se ressalta o “Estado de Direito democrático, e recentemente um ministério voltado para portos e aeroportos, as reivindicações poderiam ter avançado com mais impacto. Ainda que, com demasiado desgaste das divisões e desuniões aeroviárias, aeroNautas poderiam ter esse apoio de aeroviários e aeroviárias, em solo Seriam a “mola mestra”, caso as categorias agissem juntas, ao invés do separatismo, quando não, isolamento das entidades. A causa das categorias, explicitamente, requer um amadurecimento bem maior que as intrigas nada correspondentes às categorias. O movimento precisa conter as vaidades, e a tremenda falta de solidariedade. Em plena época de festas de final de ano, este espírito sempre se destacou na paralisações, deixando a unidade mais classista. A luta está presente. Basta verificar o acervo histórico que contém o legado do Comandante Melo Bastos, do próprio Sindicato Nacional dos Aeronautas . Ou nos arquivos salvos, hoje disponíveis na AMORJ UFRJ .
Basta a visão aérea da cabine da aeronave, também avistar a possibilidade das portas abertas para uma luta que desembarca indiferenças, e libera o embarque de vôos para novos e intensos desafios do sindicalismo brasileiro. Em especial – o setor aéreo e o ramo dos transportes. URGENTE!!!!
Solidariedade na luta, Sindicato Nacional dos Aeronautas !
Well Castro , cientista social. Comunicador Popular e sindical. Ex dirigente sindical do setor aéreo.