A partir de fevereiro de 2023, a Usina Veredas Sol e Lares beneficiará até 1.250 famílias de baixa renda no norte de Minas Gerais com descontos na fatura da CEMIG, através de créditos de energia. Instalada em Grão Mogol (MG), a usina foi viabilizada através de um projeto de pesquisa e desenvolvimento tecnológico e será gerida pelos próprios beneficiários organizados na Associação Veredas Sol e Lares.
Fundada no último dia 18 de novembro, em Araçuaí (MG), a associação irá atuar na produção (implementação, operação e manutenção da usina), uso e compensação da energia fotovoltaica que será produzida, visando o desenvolvimento regional. Entre os sócios fundadores, é marcante a presença majoritária de mulheres jovens, negras e trabalhadoras rurais, que têm atuado na pesquisa e na mobilização das comunidades de 21 municípios incluídos atualmente no projeto.
Fruto de anos de luta dos atingidos por barragens, a experiência é um marco mundial no modelo de produção e acesso à energia, constituindo-se um importante exemplo de gestão popular. No último dia 19, 120 pessoas participaram do planejamento das próximas etapas do projeto durante o seminário macrorregional “Nossa União Faz Nossa Luz”, realizado em Araçuaí (MG).
As riquezas do Vale
Ao escrevermos “Vale do Jequitinhonha” no indexador do Google, o buscador traz diversas referências à “pobreza”, “lítio” e “cidades mais pobres” de Minas. O estigma da miséria tem sido utilizado como justificativa para a implementação de grandes empreendimentos de mineração e monocultura de eucalipto no território, focados na geração de lucros para o investidores internacionais. Em torno disso, ergueu-se também um projeto energético fundado na construção de usinas hidrelétricas para abastecimento de grandes empresas, impactando diversas comunidades atingidas com problemas socioambientais.
Uma experiência como a do projeto Veredas Sol e Lares, entretanto, evidencia e potencializa as riquezas culturais e organizativas do povo do Vale do Jequitinhonha e da região do Rio Pardo, que têm construído nada menos do que a primeira grande experiência de gestão popular da geração distribuída de energia elétrica do mundo. Neste contexto, a Associação Veredas Sol e Lares tem potencial para se tornar o maior exemplo de associativismo do Brasil, que irá gerir a maior usina fotovoltaica flutuante da América Latina e produzir metodologias inovadoras de planejamento popular. Todos esses aspectos de pioneirismo demonstram a capacidade da região de avançar e influenciar todo o mundo na construção de uma alternativa energética fundada no direito à energia e no controle popular.
Nossa União Faz Nossa Luz
O seminário “Nossa União Faz Nossa Luz” foi um momento de celebrar essas riquezas e avançar nesse projeto. Na ocasião, toda a diversidade da região – núcleos urbanos, comunidades rurais, quilombos, povos indígenas, geraizeiros e ribeirinhos – puderam se informar sobre o processo jurídico de construção da associação, sobre a viabilidade econômica da usina e sobre a organização popular necessária para a sua manutenção. Tudo isso foi costurado pelas intervenções de músicos que entoavam canções populares para animar o espaço e celebrar as riquezas da cultura do Jequi e do Rio Pardo.
Uma série de ferramentas pedagógicas compuseram a metodologia do seminário – cartilhas, cancioneiros, vídeos e apresentações. No vídeo abaixo, em que os versos do militante do MAB e pesquisador popular Lucas Martins narram a história do Veredas, você pode conferir algumas das pautas debatidas no seminário e a apresentação das obras da usina que são fruto, não só de um projeto de engenharia, mas de décadas de construção da luta dos atingidos na região.