Enedina Marques desafia padrões e revoluciona a engenharia no País

CBIC

 Primeira mulher a concluir o curso de Engenharia Civil no Paraná e na Região Sul do País e primeira engenheira negra do Brasil, a curitibana Enedina Alves Marques (1913- 1981) desafiou os padrões acadêmicos e sociais da década de 1940 e saiu do anonimato ao escolher uma profissão ocupada preponderantemente por homens.

 Compartilhando sua história, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) inaugura a editoria Personagens da Construção. O objetivo é mostrar a jornada de alguns heróis da comunidade da construção que executaram e executam ações excepcionais para o setor, com atitudes altruístas para o bem-estar de profissionais da construção civil e a sociedade como um todo.

Sendo assim, a CBIC convida você a entrar no túnel do tempo para revisitar neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a vida da pioneira Enedina Marques e dar a ela o reconhecimento e a visibilidade necessária por sua representatividade para a Engenharia nacional.

Mulher, negra e de origem humilde seria uma ilusão pensar que Enedina teria tido uma vida tranquila e sem desafios. Para ser respeitada, desde cedo teve que se impor de forma enérgica e rigorosa. Na vida profissional não foi diferente. Superou barreiras sociais, econômicas, culturais, políticas e étnicas ao demonstrar ser uma mulher à frente do seu tempo.

Com a separação dos seus pais, Paulo Marques e Virgília Alves Marques, Enedina e seus irmãos foram criados na casa da família do delegado e major do Exército, Domingos Nascimento Sobrinho, para quem sua mãe trabalhava como doméstica.

Sua vida educacional foi impactada sócio e economicamente por essa família. Estudou nos mesmos colégios da filha do militar, por ter a mesma idade da menina. Ainda criança, no entanto, trabalhou como babá em casas de famílias.

Foi alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza Dorfmund e posteriormente ingressou na Escola Normal. Trabalhou como professora no interior do estado do Paraná. Quando retornou a Curitiba, para fazer um curso intermediário exigido para o magistério, fixou residência com a família do mestre de obras e empresário da construção civil Mathias Caron. Nessa fase, para complementar seus rendimentos e pagar estudos complementares, Enedina instalou uma escolinha, onde dava aula particular para crianças.

Em 1938, fez curso complementar em pré-Engenharia e, em 1940, ingressou na Faculdade de Engenharia do Paraná (FEP), graduando-se aos 32 anos em Engenharia Civil, única mulher da turma junto a outros 32 homens.

Atuação na Engenharia

Enedina Marques durante a construção da

Enedina Marques ganhou destaque na engenharia nacional e reconhecimento profissional durante o período do governo Moisés Lupion ao participar do projeto da Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira, maior central hidrelétrica subterrânea do sul do Brasil, atual Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina, no Paraná.

No comando da empreitada, a engenheira enfrentava preconceitos dos funcionários subordinados pelo fato de ser mulher. Para resolver a questão, a pequena Enedina se impunha. Usava calça, bota e revólver na cintura. Aliás, essa era uma de suas características, tinha pulso firme ao lidar com seus comandados.

A engenheira atuou no trabalho de campo na topografia para a construção da usina, além de ter calculado e fiscalizado a construção de várias pontes na estrada que liga o porto de Cacatú à Usina de Cotia.

Na sua trajetória, Enedina também trabalhou como auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas, antes de ser transferida pelo governador Moisés Lupion para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica (DAEE), onde atuou como fiscal das obras do estado. Por seu excelente desempenho, foi designada primeira mulher a chefiar a Divisão de Engenharia da Secção de Estatística do Estado e, posteriormente, fiscal das obras da Usina Hidráulica de Cotia, no município de Antonina, assim como responsável pelo levantamento topográfico do canal adutor entre os rios Saci e Cotia.

Chefiou o serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura, com a justificativa da necessidade da sua alta capacidade técnica e experiência para pôr em prática os projetos ligados à sua pasta. Além disso, realizou as obras do Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba (CEU).

Reconhecimento

Enedina Marques com a família do construtor Mathias Caron. Fonte: Fundação Palmares

  • Ao se aposentar, Enedina recebeu reconhecimento do governador Ney Braga, o que lhe garantiu proventos equivalentes ao salário de um juiz (1962).
  • Virou nome de rua no bairro Cajuru, em Curitiba (1988).
  • Foi Imortalizada no Memorial à Mulher, localizado na capital do Paraná (2000).
  • Criado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá-PR (2006).
  • O Confea conferiu a Enedina Marques a Láurea ao Mérito pelos relevantes serviços prestados à Engenharia, Arquitetura e Agronomia, tendo seu nome inscrito no Livro dos Méritos (2006).

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