Com o aprendizado das crises mundiais recentes – pandemia da Covid-19 e guerra Rússia e Ucrânia –, as produções nacionais ganharam maior vantagem estratégica frente às importações de matérias-primas. Celeiro mundial de alimentos, o agronegócio brasileiro, porém, ainda importa mais de 85% de fertilizantes usados na atividade. Como maior produtor de gás natural no país, o Rio de Janeiro pode reverter a situação de dependência do Brasil na área de petroquímica, transformando o estado fluminense em um hub petroquímico e de fertilizantes, conforme demonstra o estudo “Petroquímica: atração de investimentos para o Rio de Janeiro”, da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Lançado nesta terça-feira (25/4), na sede da federação, o estudo evidencia o potencial de desenvolvimento da indústria petroquímica e de fertilizantes do Rio, a partir do uso do gás natural como insumo. Além disso, a federação destaca que o estado fluminense também é um hub de atração de investimentos para a nova fronteira energética mundial, o hidrogênio, com diversos projetos em desenvolvimento e com potencial integração com o gás natural.
“Para que as indústrias sejam atraídas e se instalem no Rio de Janeiro, além da disponibilidade de matéria-prima, que temos, também é fundamental a implementação de projetos de infraestrutura e logística”, argumenta o vice-presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano. Ele lembra que o potencial de investimentos da petroquímica no estado, a partir do gás natural, pode chegar a
R$ 65 bilhões, como mapeado pela federação no ano passado.
Insumos para petroquímica
Como protagonista da produção de gás nacional, proveniente do pré-sal, o Rio de Janeiro responde por 100% da produção de etano no país, insumo base da petroquímica nacional. Para aumentar ainda mais a produção do etano, a Firjan propõe que parte do gás reinjetado nos poços seja disponibilizado para a indústria, o que poderia produzir 932 mil toneladas de polietileno, com base nos dados de 2022. Essa produção potencial é equivalente a 1,14 vezes o total importado desse produto pelo país em 2022, com base em um cenário de aproveitamento total retirada a parcela para o gás de rede consumido via distribuição.
Ainda mais. Em torno de 18 bilhões de metros cúbicos (m³) de gás natural foram reinjetados nos campos produtores no estado no ano passado. Se esse volume de gás fosse aproveitado, poderia demandar, por exemplo, pelo menos, duas UPGNs (Unidades de Processamento de Gás Natural) de capacidade equivalente à unidade de Cabiúnas, localizada em Macaé. A partir delas seria possível obter mais de 10 milhões toneladas/ano de correntes de saída após o processamento do gás, distribuídas em: 5,9 milhões t/ano de metano; 1,3 milhão t/ano de etano; 1,8 milhão t/ano de propano; 796 mil t/ano de butano; e 362 mil t/ano de C5+.
“É importante lembrar que o Rio de Janeiro tem potencial para 4 hubs integrados de gás natural, além da previsão de cinco plantas para geração de hidrogênio verde, que poderão ser aplicadas no processo de fabricação de fertilizantes nitrogenados, como amônia e a ureia”, cita Karine Fragoso, gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan.
A publicação da federação traz também artigos de entidades e empresas parceiras, além governo do estado, na defesa do tema: ABIQUIM – “Impactos da alteração da especificação do gás natural”; ABEMI, líder da Coalizão pela Competitividade do Gás Natural para matéria-prima – “A importância da retomada da indústria química no Brasil e no Rio de Janeiro a partir do gás natural”; Braskem – “Quando dividir significa multiplicar: fracionar o gás para alavancar o crescimento”; Secretaria de Estado de Energia e Economia do Mar do RJ – “A indústria petroquímica no estado do Rio de Janeiro e seu potencial de atração de investimentos e geração de empregos”; e Firjan SENAI SESI – “Petroquímica e fertilizantes no Rio de Janeiro: necessidade, oportunidade e rotas para seu desenvolvimento”.