Organização sem fins lucrativos apoia projetos que contribuem para proteger a floresta amazônica e estimulam o empreendedorismo, agricultura familiar e empoderamento feminino
Instituído em 2019 como um compromisso conjunto das empresas Hydro, Albras e Alunorte para o desenvolvimento sustentável de regiões brasileiras, especialmente no estado do Pará, o Fundo de Sustentabilidade Hydro (FSH) celebra quatro anos de atuação transformando a vida de mais de 100 mil pessoas, direta ou indiretamente, por meio de parcerias com instituições locais. Com investimentos de cerca de R$ 40 milhões, dentre os R$ 100 milhões previstos em 10 anos, a iniciativa contempla sete grandes programas, com objetivos e atuações diferenciadas, que financiam diversos projetos de incentivo ao empreendedorismo comunitário na região e ao empreendedorismo feminino. Os investimentos do FSH são aplicados em capacitações, contratação de serviços e compras de comunidades locais, pesquisa, entre outros.
“Cada vez que selecionamos novos projetos, estamos promovendo conexões entre diversos setores da sociedade para que eles executem ações concretas de impacto positivo no município. Por meio do FSH, investimos também em inovação na Amazônia, conectando as boas iniciativas locais – que valorizam a floresta em pé e uma economia de baixo carbono – às cadeias globais. Pois, é importante dizer, não faltam pessoas, ideias ou estudos relevantes na região, mas sim incentivo ao empreendedorismo local. Nesse contexto, apoiamos o agricultor em uma cadeia completa – da floresta ao mercado – e, assim, contribuímos para a atração de investimentos necessários para o desenvolvimento da bioeconomia”, destaca Eduardo Figueiredo, diretor executivo do Fundo de Sustentabilidade Hydro.
A região amazônica, por ser o berço natural da maior biodiversidade do planeta, tem cada vez mais atraído atenção economicamente por ser considerada um ativo bioindustrial. Por isso, importantes programas/projetos foram ou estão sendo desenvolvidos na Amazônia focando o conhecimento da biodiversidade, conservação e biotecnologia. Conhecer as áreas de atuação das comunidades locais e seu potencial de empreendedorismo é fundamental para o incentivo ao desenvolvimento regional. E é neste cenário amazônico que a organização sem fins lucrativos vem transformando a vida de diversas comunidades da região de Barcarena, município localizado na região metropolitana de Belém e importante polo industrial do estado.
Desenvolvimento da agricultura familiar
Elias Bezerra, que participa de dois projetos financiados pelo FSH, o Tipitix e o Travessia Barcarena, possui uma propriedade em Barcarena que vem se desenvolvendo e gerando renda para ele, a família e outros pessoas da comunidade que participam da produção de chips de banana, sementes de açaí, adubos, comercialização de diversos tipos de banana, entre outros. Por meio do Tipitix, ele já comercializa, no mercado local e na capital, os chips de banana, sendo responsável por todo o processo, do plantio da banana até a comercialização com grandes redes de supermercados. Pelo Travessia, ele recebeu um motocultivador para limpeza da área de plantação. “Com o equipamento, também transformei uma área ociosa que tinha no meu sítio em uma horta para produção de hortaliças e, assim, consigo diversificar minha produção e aumentar minha renda”, conta Elias.
O Travessia Barcarena beneficiou também outras unidades produtivas familiares, com diversos materiais. Além das roçadeiras e motocultivadores, foram entregues materiais para construção ou reforma de aviários e casas de farinha, lonas, sombrite e madeira para instalação ou reforma de hortas e viveiros de mudas, encanação para irrigação das plantações, basquetas (cestos para carregamento da produção) e caixas para transporte adequado de aves, embalagens para comercialização de hortaliças e material de proteção contra a Covid-19 (170 mil máscaras, escudo facial, álcool em gel, toucas e aventais).
Foram mais de 100 costureiras capacitadas, gerando uma renda total de R$ 284 mil; 90 unidades produtivas de agricultores que receberam melhorias na infraestrutura e 50 toneladas de alimentos doados para famílias em situação de vulnerabilidade social, beneficiando 7 mil pessoas. Ao todo, mais de 80 mil pessoas foram impactadas positivamente na região por meio do projeto. “Sempre digo que realizamos sonhos. Os agricultores que receberam roçadeiras, por exemplo, diminuíram os custos com mão-de-obra usada antes na limpeza do açaizal, que não é barata, e hoje o custo deles é apenas com combustível para o equipamento. Para mim, tem sido um desafio e aprendizado diários trabalhar e conviver com essas comunidades”, relata o engenheiro agrônomo Rosemiro Rodrigues, técnico de campo do Instituto Peabiru.
A hora e a vez das mulheres
Segundo dados do Sebrae de 2022, existem 720,542 empreendedoras no Norte do Brasil, representando 8% do número de empreendedoras do país. A maior concentração se encontra no estado do Pará, com 376,366 empreendedoras, ocupando o oitavo lugar no ranking nacional e concentrando metade do número de empreendedoras de toda a região norte.
Os projetos do FSH incentivam diversos grupos dessas mulheres empreendedoras. Uma delas são as mulheres da comunidade de Itupanema, em Barcarena, da família da dona Natalina Coutinho, que com a produção de suco de frutas e das geleias Açucena, feitas com frutas da região amazônica cultivadas nos quintais da família, já expandiu a produção e aumentou a renda familiar. São doze pessoas, entre oito mulheres e quatro homens, que também produzem na propriedade adubos, biofertilizante, vendas de mochilas por meio do reaproveitamento de uniformes doados pelo exército e venda de açaí. Ela participou de dois ciclos do projeto Tipitix e do Travessia Barcarena. “Para mim, é gratificante poder voltar a viver da agricultura familiar. Saí do campo para proporcionar uma vida melhor aos meus filhos e, agora que eles estão formados, quero voltar a viver da minha produção no sítio. Estou conseguindo ampliar minha renda com o conhecimento que tenho adquirido nos projetos da Hydro”, conta Natalina.
O Tipitix não é apenas um espaço de beneficiamento, mas sim uma unidade de negócio que pretende oferecer para diferentes empreendedores e grupos sociais relacionados à agricultura familiar a possibilidade de acesso a novos mercados ou aos mesmos mercados em melhores condições. O projeto recebeu um investimento, voluntário e espontâneo, de mais de R$ 4 milhões, para realizar quatro ciclos de desenvolvimento de negócios, sendo criadas 29 marcas, envolvendo 43 agricultores de 21 comunidades de Barcarena. Ao final dos 4 ciclos, a renda gerada com a venda dos produtos já soma mais de R$ 100 mil, com a comercialização dos produtos em 22 pontos em seis estados: Pará, Amazonas, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Entre os produtos já lançados no mercado estão as geleias de açaí e muruci, cobertura para sorvete de açaí, taperebá e cupuaçu, pão de queijo de macaxeira, maniva temperada, molho de pimenta de tucupi e muitos outros.
O empoderamento de mulheres por meio do conhecimento em informática, oratória, empreendedorismo e habilidades socioemocionais fazem parte do projeto itinerante Mulheres do Nosso Bairro, da plataforma Conexões Sustentáveis, apoiado também pelo Fundo de Sustentabilidade Hydro. Cerca de 150 mulheres já participaram das formações. Nos relatos compartilhados, alunas contaram como desenvolveram habilidades que ajudaram na tão sonhada vaga no mercado de trabalho. Foi o caso de Mayara Barbosa que entrou para o programa Jovem Talento da Hydro Alunorte. “O curso veio como uma porta de entrada para um novo mundo para nós, mulheres com histórias de vida diferentes, com um propósito de se desenvolver. As habilidades que eu aprendi me ajudaram a conseguir uma colocação como jovem aprendiz e a sonhar com um futuro cheio de conquistas”, conta a aluna.
A Plataforma Conexões Sustentáveis busca financiar projetos socioambientais para promover transformações positivas em prol do desenvolvimento de Barcarena, beneficiando prioritariamente organizações comunitárias locais, que têm dificuldades de acesso a créditos. Desde 2022, a Plataforma lançou 22 novos projetos, com investimento de mais de R$ 3,5 milhões, impactando 1.400 pessoas.
Outra comunidade de mulheres empreendedoras que se desenvolveram com o suporte do FSH é a do Cupuaçu, onde a agricultora Rosa Queiroz aprendeu com as gerações passadas a produzir a farinha de mandioca. Este conhecimento foi aperfeiçoado com o apoio do projeto Tipitix, que ofereceu assessoria técnica para o desenvolvimento dos produtos, infraestrutura para o beneficiamento da produção; além de apoio em design, crédito e assessoria comercial para inserção dos produtos no mercado. O projeto ofereceu também suporte administrativo e contábil.
“Com este apoio, conseguimos melhorar a qualidade da nossa farinha e ampliamos a venda do nosso produto, e hoje ele já pode ser encontrado nas grandes redes de supermercado da capital e fora do estado. O Tipitix mudou nossas vidas para sempre”, avalia Rosa Queiroz, que junto com a sua família, a maioria mulheres, desenvolve a marca Mandioqueiras.