No segundo dia do Congresso Cidades Lixo Zero, no Museu da República, em Brasília, o painel Educação e Conscientização reuniu especialistas para discutir a importância da transformação dos modos de produção e consumo como resposta às mudanças climáticas.
Marcos Sorrentino, diretor do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, afirmou que a educação ambiental deve ir além do lixo, abrangendo hábitos de consumo, dieta e cultura, com todos se vendo como parte de uma cadeia de consumo.
Nelson, proprietário do Bar e Restaurante do Nelson em Paraty, RJ, compartilhou suas práticas sustentáveis aplicadas ao longo de 25 anos, destacando os princípios dos 6 R’s: Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reparar e Reciclar. Nelson é certificado por utilizar saneamento ecológico em seu estabelecimento.
A professora de biologia Margarida, de Portugal, expôs a necessidade urgente de mudar o modo de vida da humanidade para coexistir em simbiose com a Terra. Ela apresentou dados recentes sobre as mudanças climáticas e ressaltou a importância de passar do Antropoceno para o Simbioceno, promovendo um metabolismo urbano melhorado e metas de lixo zero.
Pal Martensson, coordenador do Zero Waste International, destacou a importância da auditoria de resíduos como ferramenta essencial para entender e resolver a crise de resíduos. Ele explicou que a auditoria permite identificar a quantidade e os tipos de resíduos gerados, fornecendo dados concretos para políticas e práticas de gestão eficazes. Martensson também introduziu o conceito de “name, shame, and fame”, enfatizando a necessidade de responsabilizar os grandes emissores de resíduos. Segundo ele, destacar publicamente aqueles que geram maiores impactos negativos e elogiar os que adotam práticas exemplares é crucial para promover a responsabilidade ambiental. Além disso, Martensson destacou a relevância da colaboração entre governos, indústrias e cidadãos no processo de auditoria de resíduos, essencial para a transição para uma economia circular.
O painel reforçou a necessidade de práticas de auditoria de resíduos como parte integrante das políticas públicas e estratégias de gestão, visando a redução da poluição e a melhoria da qualidade ambiental.
Oceanos em foco
Mais cedo, durante o “Painel de Políticas Públicas e Legislação” do Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, Lara Iwanicki, Gerente de Advocacy da Oceana, destacou o Projeto de Lei 2524/2022, que propõe um marco regulatório para a economia circular do plástico no Brasil. O PL, de autoria do senador Jean Paul Prates, visa reduzir a poluição plástica e promover a sustentabilidade.
Iwanicki salientou a urgência do Brasil, maior produtor de plástico na América Latina, em seguir o exemplo de países como Canadá e Índia, que já adotaram leis para reduzir plásticos descartáveis. O PL 2524/2022, fruto de discussões com a sociedade civil, incluindo organizações como a Oceana e o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), agora depende da aprovação dos legisladores para efetivar a mudança.
Tsunami de Plástico
No III Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, a Oceana se destaca com a instalação imersiva “O Tsunami de Plástico”, idealizada por Mundano. Patrocinada pelo Instituto Lixo Zero e desenvolvida pelo Movimento Reinventando Futuros, a obra conscientiza sobre a poluição plástica nos oceanos. A onda inflável de 10 metros de altura e 20 metros de largura, feita de 605m² de plástico soldado, incluindo 1.100 sacolas plásticas, relembra “A Grande Onda de Kanagawa” de Hokusai.
Criada com apoio do coletivo Flutua e do Pimp My Carroça, a instalação envolveu catadores de material reciclável na coleta e higienização dos plásticos e na produção do inflável. A cenografia interna simula o fundo do mar com resíduos plásticos como garrafas PET e vapers. A instalação, aberta ao público durante o congresso, provoca reflexão sobre o consumo de plásticos de uso único e a necessidade de legislações mais rigorosas para combater a poluição plástica. Mundano enfatiza a importância de repensar hábitos de consumo e a responsabilidade das indústrias e do poder público.
Além da instalação, o Movimento Reinventando Futuros organiza painéis e rodas de conversa sobre a poluição plástica e o papel crucial dos catadores na mitigação deste problema. A instalação celebra a contribuição dos catadores para a reciclagem e a gestão eficiente de resíduos.