Gisele de Paula: A arquitetura de raízes negras que conquista o mundo

Arquiteta nascida no Complexo de São Carlos, no Rio, é uma das pioneiras a levar as novas narrativas negras para o mundo da arte e arquitetura.

A construção de novos caminhos que saem da favela e chegam ao mundo, assim como a criação de um novo olhar sobre a arte com as novas narrativas pretas, fazem parte da trajetória da arquiteta Gisele de Paula. Com uma carreira consolidada na arquitetura de expografia, Gisele prepara-se para desafios importantes em 2025, incluindo a exposição Gordon Parks no Instituto Moreira Salles, prevista para este ano, e a exposição inaugural do Museu Vila de Vassouras. Em março, Gisele embarca para a Filadélfia, nos Estados Unidos, para compartilhar sua arte em palestras, ampliando a presença da arquitetura expográfica preta em circuitos internacionais.

Em abril de 2024, Gisele participou da exposição Atlântico Vermelho na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, Suíça. A mostra, que contou com 60 obras de 22 artistas negros brasileiros, ocorreu durante o 3º Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU. A exposição foi uma ação conjunta entre o Instituto Luiz Gama, a ONG Paramar e o Instituto Guimarães Rosa, com co-realização do Museu de Arte do Rio (MAR) e da Organização de Estados Ibero-americanos.

A exposição Atlântico Vermelho é especialmente significativa, pois está alinhada com o Projeto de Lei nº 1.928, de 2024, que visa regulamentar a profissão de artista visual no Brasil. O PL 1.928/2024 busca reconhecer e valorizar os profissionais das artes visuais, garantindo-lhes direitos fundamentais, como acesso à previdência social, condições dignas de trabalho e remuneração justa.

Nascida e criada no Complexo do São Carlos, no Centro do Rio de Janeiro, Gisele, aos 35 anos, tem consolidado uma trajetória profissional que ultrapassa fronteiras, acumulando experiências nos Estados Unidos e em capitais europeias, como Paris e Roma. “É fundamental lembrar que um dia eu fui aquela menina da favela, para nunca esquecer minhas raízes e para que as crianças de lá vejam que é possível… Eu não brotei de repente, eu me preparei muito para viver tudo isso e levar para fora a construção de novas narrativas que podem romper esse gargalo racial”, afirmou a arquiteta, que atualmente reside em Niterói.

Ao longo de cinco anos de trabalho, Gisele projetou 200 exposições, das quais 105 foram executadas e ainda estão em exibição em cinco estados do país. “Ser uma mulher negra arquiteta de expografia e estar nesses espaços, trazendo uma nova narrativa para a arte e para a arquitetura, é uma grande conquista. Meu primeiro contato com a arquitetura foi através de um programa que urbanizou as comunidades do Rio de Janeiro. A partir daí, percebi que era possível transformar espaços e criar novos significados para a arte negra no Brasil e no mundo. Poder estar ao lado de outros grandes nomes construindo essas possibilidades é de um valor imensurável”, afirmou.

A construção com afeto, que marcou também os trabalhos realizados no Museu de Arte do Rio (MAR), abriu portas para os 26 voos realizados em 2024, em uma retrospectiva de sua trajetória. Esse percurso garantiu novas oportunidades no MAR, onde Gisele já tem mais duas exposições previstas para este ano, abordando a arte diaspórica como uma referência ancestral.

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