Do Instituto Aço Brasil
Agosto, 2019 – Embora a demanda pelo aço brasileiro tenha sido severamente reduzida nos últimos cinco anos, que a guerra comercial entre EUA e China e as medidas protetivas comerciais de vários países consumidores tenham provocado concorrência desleal para a indústria brasileira do aço (por excesso de oferta de aço mais barato no continente sul-americano), o governo federal afirma que irá promover iniciativas que promovam “a inserção econômica do Brasil na economia global”.
No entanto, economistas e industriais presentes ao Congresso Aço Brasil 2019 entendem tais iniciativas como sendo uma maior abertura comercial aos produtos importados. O assunto foi debatido no Painel 1 – Competitividade e abertura comercial, que também defendeu a necessidade da correção das assimetrias competitivas antes de uma maior abertura comercial. O painel foi moderado por Marcos Eduardo Faraco Wahrhaftig, Vice-Presidente do Conselho Diretor do AçoBrasil/Diretor Executivo das Operações de Negócios Brasil, Argentina e Uruguai da Gerdau. Participaram também o economista Antonio Corrêa de Lacerda; Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho Superior do Movimento BrasilCompetitivo; economista Juan Ferres, fundador da Ferres Consultoria; e José Velloso Dias Cardoso, representante da Coalizão Indústria/Presidente Executivo da ABIMAQ; e o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Prado Troyjo.
O economista Antonio Corrêa de Lacerda disse que “há autoridades que acham que a abertura comercial resolve tudo” – sem se referir a uma autoridade específica –, o que é temerário para a indústria. Ele disse que as medidas de estímulo à economia defendidas pelo governo federal, que podem resultar em uma maior abertura comercial, devem ser ágeis, mas não pode haver “açodamento”. Para Lacerda, “reduzir o Custo Brasil é imprescindível” para a competitividade nacional.
Segundo ele, o nível de industrialização do Brasil é o mesmo de 10 anos e o consumo médio do Brasil cresceu 80% no mesmo período, via aumento das importações, gerando déficit comercial dos produtos industriais. Lacerda acrescentou que a valorização cambial observada no país nos últimos 30 anos foi fruto de uma política para usar o câmbio de modo a combater a inflação e estabilizar a economia e não para promover o desenvolvimento, via a industrialização.
José Velloso Dias Cardoso, representante da Coalizão Indústria/Presidente Executivo da ABIMAQ, disse que o setor de bens de capital será prejudicado caso o governo promova, no curto prazo, maior abertura comercial. Ele defende que tais medidas, se adotadas, ocorram em prazo de 8 anos e não em 4 anos, como se cogita. A indústria de máquinas e equipamentos consome 22% do aço produzido no Brasil. “Quando se faz estudo de equilíbrio geral computável sempre sai dado chamado ‘bem-estar’, ou seja, quem ganhou bem-estar na população com a abertura, mas ele nunca aparece em nenhum estudo. A abertura comercial, enquanto proposta, vai proporcionar ganho de bem-estar para quem está no exterior exportando para oBrasil 21 vezes maior do que o ganho de bem-estar para quem está no Brasil“, afirmou.
O moderador do Painel 1, Marcos Wahrhaftig, disse que, considerando os últimos 17 anos, “temos hoje em termos de utilização da capacidade o pior nível de uso da capacidade da indústria brasileira do aço. 30% da capacidade estão ociosas, hibernando; 30% da produção estão sendo exportadas em um cenário de concorrência desleal; 40% estão expostos ao desvio de comércio (em razão da elevada oferta de aço importado na América do Sul, que deveria ir para outros países). Este é o pano de fundo da conjuntura nacional” para a indústria do aço. Ele insistiu que o Brasil precisa debater a abertura comercial de forma equilibrada, levando em conta a necessidade de se adotar medidas de curto prazo para corrigir as assimetrias que afligem a indústria, ou seja, o Custo Brasil.
Para o economista Juan Ferres, há interpretação equivocada de que o fato de o custo de produção do aço no exterior ser menor do que o produzido no território nacional se deve à ineficiência da indústria brasileira e que por isso seria justificável haver proteção comercial no Brasil. Na verdade, o Brasil é eficiente industrialmente na produção de aço, afirmou Ferres. Segundo ele, o que mina a competitividade são os custos de Estado embutidos, ou seja, fora do ambiente da indústria e de seu controle, que é o Custo Brasil. Como exemplo, Ferres citou que na exportação do aço, considerando somente a esfera federal, há mais de 250 taxas e contribuições que, somadas, atingem valores exorbitantes e encarecem o custo do aço brasileiro.
Segundo o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Prado Troyjo, o desafio do governo é inserir o Brasil na economia global, o que não equivale a uma abertura comercial tradicional. O governo quer fazer com que o país passe de uma nação “escondida do mundo”, para uma situação semelhante às nações que adotaram medidas, décadas atrás, para se tornarem protagonistas no mercado global, como Cingapura, Coreia do Sul, Espanha, Japão, China, entre outros. O comércio exterior foi mola propulsora para o crescimento econômico e o desenvolvimento desses países, afirmou, dizendo que o mesmo será feito em relação ao Brasil.
Para a indústria do aço, o secretário Troyjo acenou com perspectivas positivas pelo esperado crescimento da demanda pelo produto por parte dos países próximos à China, que passam por processo acelerado de industrialização e de investimentos em infraestrutura. Além do aço, outros setores produtivos brasileiros, como agronegócio e mineração, serão beneficiados, disse.
Ele anunciou que nos próximos dias o Brasil deverá assinar acordos comerciais com nações fora da zona do euro, como Coreia do Sul, Canadá, México, Cingapura, além de tratados com EUA e Japão. Isso, segundo ele, representa mais oportunidades de negócios para a indústria nacional.
Sobre o que chamou de “abertura comercial tradicional”, ele comentou que o governo tem convicções. Uma é o combate ao “emaranhado de complexidades burocráticas, tributárias, de visão de curto prazo e de cultura favorável ao isolamento. Estamos atacando isso”, disse, ao citar a reforma da previdência, às ideias do governo sobre reforma tributária, ao enxugamento do estado na economia e outras medidas.
“Não vamos tratar temas complexos dessa natureza apenas como sinônimo de queda pontual de tarifas aqui e ali. Vamos olhar o todo porque aí sim se escapa de outra grande armadilha que o Brasil ficou muito preso, que é o ‘curtoprazismo’ e uma perspectiva de que o Brasil é uma espécie de ‘ilha’ separada do contexto global, do qual o Brasil tem muito a lucrar”, afirmou.
Fonte: Imprensa/Instituto Aço Brasil