Julho de 2020 – Especialistas e representantes de empresas alertam que existe um elevado potencial econômico e ainda não totalmente dimensionado da floresta em pé e que aliar este enorme ativo com a tecnologia, agregando valor, é o que pode colocar o Brasil numa posição de destaque na nova economia. A biodiversidade é considerada hoje um ativo extremamente estratégico, inclusive do ponto de vista financeiro, para a sustentabilidade dos negócios, uma vez que o país detém 20% da biodiversidade global, a maior do planeta.
Essa foi a principal mensagem do sexto webinar da série de debates ReVisão 2050, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que visa planejar e construir uma visão de futuro. Transmitido ao vivo pelo canal do CEBDS no Youtube, o encontro levantou discussão sobre Biodiversidade e Florestas.
O tema não se resume apenas a importância da preservação, mitigação e compensação ambientais para a conter as mudanças climáticas, mas também uma questão econômica. “É preciso compreender o valor da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos também para a geração de emprego e renda e para a redução das desigualdades sociais e econômicas”, disse Marina Grossi, presidente do CEBDS, na abertura do evento.
Para Carlos Nobre, professor do Instituto de Estudos Avançados da USP, o Brasil tem tudo para ser uma potência ambiental da biodiversidade. “E as empresas precisam liderar esse processo com investimento em pesquisa e desenvolvimento dessa riqueza enorme que temos em nossa biodiversidade. Esse investimento pode se traduzir em novos produtos, emprego e renda e, redução das desigualdades”, afirmou o pesquisador.
Segundo ele, há oportunidades também para transformar o modelo de agronegócios em resposta aos desafios globais de segurança alimentar. “Nós realmente podemos ser o esteio para a segurança alimentar do mundo utilizando menos área para agricultura. É só praticar a agricultura regenerativa, que prevê a restauração dos ecossistemas”, sugeriu o professor, acrescentando que os serviços oferecidos pelos sistemas naturais têm impacto na segurança alimentar, energética e hídrica; na produtividade da cadeia agrícola e servem de estoque e sumidouro para o carbono.
Relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos sobre restauração de paisagens aponta que um hectare de floresta em pé na Amazônia, por exemplo, gera em média R$ 3,5 mil por ano e no cerrado em torno de R$ 2,3 mil por ano. Em sistemas agroflorestais esse rendimento pode chegar a mais de R$ 12 mil anuais. Já o mesmo hectare desmatado para a pecuária daria um lucro de R$ 60 a R$ 100 por ano. Se usado para soja, o valor seria de R$ 500 a R$ 1 mil por ano.
Nesse sentido, como frisou o presidente do Instituto Juruá, João Campos Silva, a janela de oportunidade de negócios traz também uma responsabilidade social enorme. “Acredito que, se as empresas aliarem o conhecimento científico ao tradicional, terão sucesso com um novo conceito de fazer negócios”, observou Campos, apontado ainda os gargalos logísticos na Amazônia como uma questão importante. “Tudo que você faz na Amazônia é difícil. As estruturas são rudimentares. A gente precisa pensar a realidade com criatividade. Esse desenvolvimento não virá sem um investimento massivo em infraestrutura hidroviária, por exemplo”, acrescentou.
Moderadora do debate, a consultora da ERM, Viviane Severiano, disse que vê o Brasil como referência em biodiversidade em 2050. “Mas, para isso, é preciso uma ação articulada”, disse ela. A meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030, por exemplo, assumida pelo Brasil em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) no âmbito do Acordo de Paris, somente será atingida se contar com o apoio da iniciativa privada”..
Do lado das empresas, evolui o entendimento de que colaboração e parceria são cruciais para os negócios. “A visão 2050 é de mais colaboração. E não só por convicção, mas por uma questão de estratégia de negócios”, disse Yugo Matsuda, gerente de sustentabilidade da Suzano. “Não tem setor produtivo que sobreviva sem água. Então, a biodiversidade é um elemento-chave para a gestão dos negócios no longo prazo”, completou Patrícia Daros, gerente de Biodiversidade e Recuperação Ambiental da Vale, diretora de Operações do Fundo Vale e diretora-presidente do Instituto Ambiental Vale.
Na visão do gerente de sustentabilidade da Suzano, a reorientação dos negócios nesse sentido passa necessariamente por estratégias sustentadas em metas. “As políticas podem ser orientadas para evitar impactos ambientais e sociais. As empresas investem bastante hoje para reduzir e recuperar seus impactos. Mas, a tendência é esse processo evoluir para também gerar valor”, comentou. Nesse contexto, Patrícia destacou projetos de recuperação de áreas degradadas em uma dinâmica diferenciada, que alia retorno financeiro responsável com benefícios sociais e ambientais.
Por outro lado, se mal gerida, a biodiversidade cria condições para o surgimento de novos vírus e doenças, como a Covid-19, com profundos impactos econômicos e de saúde tanto nos países ricos como nos pobres. “As mudanças climáticas são fontes inesgotáveis de pandemias”, concluiu o professor Carlos Nobre. O projeto ReVisão 2050 tem o patrocínio da Vale e do Itaú, e conta com o apoio da ERM, KPMG, SESC e Sitawi.
Próximas agendas
Com a crise do coronavírus, o CEBDS está realizando entre suas empresas associadas e especialistas multissetoriais discussões sobre a retomada dos negócios e o planejamento de longo prazo, revisitando os compromissos definidos no documento Visão Brasil 2050, lançado na Rio+20, em 2012. Estão previstos ainda webinares para discutir Economia Circular e Cidades, com o intuito de pensar o futuro pós-coronavírus.
Os webinares contam com a participação de representantes do terceiro setor e são realizados quinzenalmente às quartas-feiras, de 8h às 9h30, de forma gratuita e abertos ao público em geral.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
DATA |
TEMA |
22/julho |
Economia Circular |
05/agosto |
Cidades |
Mais informações: https://cebds.org/