São Paulo, 2021 | O déficit qualitativo de habitações no Brasil é de 24,9 milhões, de acordo com a Fundação João Pinheiro. A dimensão humana desse número pode ser demonstrada por um contingente de moradias urbanas inadequadas, ou seja, sem condições desejáveis para abrigar cidadãos. No país, mais de 14 milhões de moradias carecem de pelo menos um serviço de infraestrutura; quase 100 milhões de pessoas não têm acesso a serviços de coleta de esgotos. Na prática, a desigualdade de raça e a de gênero estão presentes nos desafios habitacionais de uma nação que tem 63% das casas chefiadas por mulheres negras, que estão abaixo da linha da pobreza; são elas, inclusive, as mais afetadas pela crise habitacional que foi ainda mais aprofundada pela pandemia. Essas são algumas das conclusões trazidas pela Tese de Impacto Social em Habitação, conduzida pela Artemisia e Gerdau em parceria com Instituto Vedacit, Tigre, Votorantim Cimentos e Leroy Merlin, e apoio da Nova Vivenda e Habitat para a Humanidade Brasil
Com o objetivo de mapear os principais desafios de moradia que a população em situação de vulnerabilidade social e econômica enfrenta – e as oportunidades para o desenvolvimento de negócios de impacto social que possam trazer melhoria à vida desses cidadãos –, a Tese de Impacto Social em Habitação traz análises de dados quantitativos e qualitativos envolvendo moradia e impacto social; panorama da habitação no Brasil (déficit habitacional, infraestrutura); segregação socioespacial; aglomerados subnormais; mercado (construção civil e imobiliários); casa (aspectos físicos, emocionais, segurança de posse, localização e financeiro); públicos vulneráveis; políticas públicas; e visões do futuro.
Entre as oportunidades de empreender com impacto no setor – diante dos desafios mapeados –, os destaques da Tese são soluções financeiras para a habitação; regularização fundiária; aluguel acessível para moradia adequada; reformas habitacionais e assistência técnica; gestão de condomínio de habitação social; acesso e eficiência a serviços básicos; qualificação dos espaços públicos e desenvolvimento local; capacitação e oportunidades para profissionais da construção civil; e inovações em processos e materiais da construção civil.
A edição 2021 da Tese traz um capítulo especial sobre o impacto da pandemia na crise habitacional nacional. De acordo com o mapeamento, muitas famílias tiveram perda de renda e, consequentemente, das suas casas; o aumento do número de famílias despejadas foi de 310% no período, configurando o que a Organização das Nações Unidas classificou como um Tsunami de Despejos, reforçando a necessidade de se garantir o direito à moradia.
Segundo Maure Pessanha – presidente do Conselho da Artemisia e uma das coordenadoras da pesquisa –, a proposta da análise setorial é mapear os reais desafios da habitação no país e avaliar os possíveis caminhos para endereçá-los, envolvendo especialistas de diferentes frentes do setor. “É urgente lançarmos um olhar sistêmico para esse contingente de seres humanos vivendo em condições inadequadas; essa situação atinge milhares de famílias brasileiras em diferentes dimensões para além da saúde, como autoestima, segurança, qualidade de vida, educação e empregabilidade”, afirma. A executiva salienta que embora os desafios que tangem as habitações de milhares de brasileiros tenham sido evidenciados pela pandemia, eles são complexos e históricos, demandando ações conjuntas. “Para enfrentar problemas dessa magnitude, é preciso agir em colaboração, unir expertises de diferentes organizações e empresas que olham para os temas habitacionais. Apenas dessa forma é possível avançarmos na transformação necessária dentro do setor”, salienta Maure.
A íntegra da Tese de Impacto Social em Habitação pode ser acessada pelo sitehttps://artemisia.org.br/habitacao/tese/