Por Ming Liu
Nos anos 70, o movimento da contracultura americana idealizou o movimento do Earth Day e alguns anos depois, em Estocolmo, foi estabelecido o Dia Mundial do Meio Ambiente. Vinte anos depois, acontecia a Eco92 e a Cúpula da Terra, que foram realizadas em nosso país, divisores de atitudes em relação às políticas públicas e diretrizes mundiais para o meio ambiente. Esse movimento de consciência ambiental saiu de 20 milhões de pessoas, em um país, para 200 milhões de centenas de países.
O que isso tem a ver com nosso microcosmo orgânico no Brasil?
Bem, a revolução verde do agronegócio chamou a atenção do mundo sobre os efeitos que a agricultura e os alimentos poderiam trazer aos consumidores; os impactos ao meio ambiente surgiram a partir da Rio 92 com questionamentos e provocações. Anos mais tarde, vários países acabaram desenvolvendo programas próprios e evoluíram para o desenvolvimento do setor de produtos orgânicos e sustentáveis.
No Brasil, esse processo que iniciou na agricultura alternativa, desenvolveu para a produção alternativa e ecológica. Surgia então o movimento da Agroecologia e da Agricultura Familiar, que atualmente constitui na base da produção orgânica no país.
Desse processo, atualmente já existe uma plataforma mais formal de um programa nacional – PLANAPO (Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica), que cuida dos interesses e demandas do setor e que tem sido uma diretriz do governo federal para promover o desenvolvimento do setor.
Esse desenvolvimento que se deu em maior escala inicialmente nas regiões Sul e Sudeste, organizadas em unidades produtivas e cooperativas de produção, se tornaram os pilares da economia solidária e associativa da agricultura familiar. Em 2003 evoluiu para a criação e a publicação do primeiro marco regulatório dos orgânicos, a Lei 10.831, reunindo os diversos modelos de produção primária da agricultura familiar, da agroecologia, da agricultura alternativa e outras denominações em uma regulamentação nacional agora denominada de Produção Orgânica. Até 2011 foram longos anos de discussões junto a sociedade civil e órgãos reguladores dos Ministérios (Meio Ambiente, Trabalho, Agricultura, Desenvolvimento Agrário, Saúde, Desenvolvimento Social) e instituições fomentadoras como o Sebrae, Embrapa, secretarias de governo estaduais e municipais, até que finalmente se regulamentou a Lei 10.831. Só em 2012, o país teve um selo nacional para o consumidor identificar e garantir que está consumindo produtos orgânicos certificados.
Atualmente estamos no caminho de crescimento: empresas jovens e inovadoras vêm se posicionando no mercado de forma destacada e atrevida na linha do que os consumidores buscam: produtos saudáveis, autênticos, minimamente processados e que agreguem valor no seu consumo.
Queremos o futuro num planeta vivo, orgânico e saudável para se viver. É uma mudança sem volta.
O mercado global do setor de orgânicos representa um faturamento na ordem de $ 80 bilhões de dólares, sendo que os Estados Unidos representa praticamente 50% deste volume. O Brasil ainda não é representativo em termos de volume, com um faturamento estimado na ordem de $ 2,5 bi de reais. O potencial de crescimento do mercado do Brasil é grande e estima-se que o mercado venha a crescer na ordem de 30% no próximo ano.
A regulamentação possibilitou que novos empreendedores e novos investimentos no setor, e já observamos fusões e aquisições de empresas pequenas e médias no mercado, mostrando uma tendência que pode trazer ótimos volumes de investimento nesta época de retração e cenário de desaceleração da economia. As startups focadas no desenvolvimento na linha de alimentação, em sua grande maioria, têm se direcionado para entrada no mercado de produtos certificados, funcionais e orgânicos. Não somente no Brasil, mas nos mercados mais evoluídos como na Europa e Estados Unidos, os lançamentos têm se focado nos produtos sustentáveis e orgânicos.
Como todo setor que se desenvolve, o desafio é crescer de forma planejada, organizada e trazendo todos os elos da cadeia. Em 2015, fundamos o ORGANIS – Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável com o propósito de ser um facilitador para este desenvolvimento.
A principal missão do ORGANIS é harmonizar a demanda que o setor precisa de forma a poder atender empresas dos setores de alimentos e bebidas, indústria de higiene e cosméticos e o setor têxtil, onde no mercado global estes setores já são uma realidade junto ao consumidor.
O ORGANIS foi construído com a colaboração de Conselheiros Curadores que podem ajudar a unificar as demandas de forma legítima e imparcial. O ORGANIS terá pela frente prioritariamente o desafio de se fazer presente institucionalmente, fomentar o processo de comercialização no país e nos mercados globais, e ser um canal de comunicação junto ao consumidor final: educar e conscientizar sobre o produto orgânico.
Para o futuro, podemos constatar a mudança de parâmetros e critérios que os consumidores adotam e sabemos que o preço nem sempre é decisivo, apesar do cenário econômico não muito positivo para os próximos anos. Esperamos que cada vez mais, a racionalidade e o bom senso sejam decisivos na busca de produtos mais éticos, seguros e saudáveis.
Assumindo essa posição assertiva, o Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável – ORGANIS – se apresenta para ser esta plataforma de negócios para unir integrantes de uma cadeia produtiva, ser a representante legítima de produtores, processadores, empresas e empreendedores brasileiros da cadeia de produção orgânica e sustentável.
É um novo desafio para um país como o Brasil – orgânico por natureza e com a maior biodiversidade do planeta.
Ming Liu é diretor do ORGANIS – mingliu@organis.org.br
Serviços:
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Bienal do Ibirapuera – 8 a 11 de junho
ORGANIS / Projeto Organics Brasil – Rua 3 estande 3
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