Fernando Scheffer, fundador da Espaço Smart
Dezembro – O crescente interesse por wellness buildings, como são chamadas as construções que incorporam espaços voltados ao bem-estar, como saunas, spas, academias e outros ambientes de lazer, revela uma tendência do público em priorizar a qualidade de vida dentro de casa. Entretanto, o conceito de bem-estar vai além da mera adição de novos espaços, impactando até mesmo na escolha dos materiais e revestimentos da obra. É nesse contexto que o desempenho acústico se destaca como um fator crucial, contribuindo significativamente para o conforto e a qualidade de vida no interior dessas construções.
Quando falamos sobre este conceito, nos referimos à capacidade de um ambiente em minimizar a propagação e a intensidade de sons e ruídos indesejados, provenientes tanto de fontes internas quanto externas. A norma brasileira, caracterizada neste caso pela NBR 15575 (Norma de Desempenho em Edificações Habitacionais), estabelece parâmetros para o isolamento acústico de paredes, pisos e janelas, que ajudam a garantir um espaço confortável, onde sons externos ou de outros ambientes próximos não perturbem o residente.
Para se ter uma ideia do tanto que esse conceito vem sendo estimado pelo público, basta olhar às cifras do mercado. Segundo relatório desenvolvido pela MordorIntelligence, o setor destinado ao isolamento acústico deverá atingir US$ 16,90 bilhões globais em 2024, além de crescer a um CAGR de 5,59% para atingir US$ 22,20 bilhões até o final da década.
Uma casa que possui um isolamento acústico qualificado acaba por reduzir drasticamente a entrada e propagação de sons e ruídos indesejados. Em especial, em áreas urbanas, onde os moradores lidam frequentemente com ruídos intensos e contínuos, o elemento sonoro acaba sendo um auxiliar importante para a garantia de um ambiente mais tranquilo e confortável.
No entanto, muitas vezes não é tão simples garantir um bom desempenho acústico para a propriedade de forma isolada. Isso porque, diversos são os fatores que influenciam este aspecto, incluindo desde localização, proximidade com fontes de ruídos, trânsito, o tipo das janelas e portas, a tipologia de paredes, divisórias e teto, entre outros fatores.
Um dos elementos determinantes nesse sentido é definido antes mesmo do início das obras, já pela escolha do método construtivo e dos materiais que irão compor a residência. Na tradicional alvenaria comum, por exemplo, não existem camadas adicionais na construção de paredes, fazendo com que seu potencial de isolamento sonoro seja baixo. Já no caso de construções em Light Steel Frame, por exemplo, que utilizam além das estruturas de aço galvanizado, camadas adicionais de placas de drywall e lãs termoacústicas, é possível atingir um melhor isolamento acústico.
Além da questão do conforto sonora do ambiente, a acústica avança também como uma forma de valorização imobiliária. Proprietários que investem em materiais e técnicas de isolamento adicionam um diferencial competitivo ao bem, uma vez que compradores já consideram esta questão como critério importante no momento de aquisição.
Até porque, os impactos dos ruídos constantes vão além do incômodo. Segundo a própria Organização Mundial da Saúde, pelo menos, cerca de 10% da população global convive diariamente com níveis de ruído prejudiciais à saúde, gerando distúrbios no sono, estresse e até mesmo ansiedade. Sendo assim, criar um ambiente acusticamente protegido não é apenas uma questão de conforto, mas também uma demanda à saúde física e mental dos moradores.
Apesar da importância, ainda existem desafios, principalmente para viabilizar soluções acústicas de qualidade a um custo acessível. A dificuldade de acesso a materiais de alto desempenho, somada à complexidade técnica das obras, tornam o isolamento sonoro um item muitas vezes restrito a uma parcela pequena do mercado. Por outro lado, é preciso destacar também que o avanço das tecnologias e o aumento da demanda, devem contribuir com esforços nesse aspecto, ajudando na democratização do bem-estar acústico nas construções.
A partir do momento em que a qualidade do ambiente interno ganha relevância, o conforto acústico passa a ser um critério fundamental do conceito moderno de bem-estar residencial, que valoriza o imóvel e promove uma vida mais tranquila e saudável aos moradores.
*Fernando Scheffer é fundador da Espaço Smart, primeira loja de casas do Brasil