As cidades brasileiras não têm infraestrutura para lidar com ondas de calor e chuvas intensas

Fevereiro de 2025 bate recordes negativos e a previsão para março ainda é de altas temperaturas

Por Ladimir Kriiger Junior

Fevereiro de 2025 foi um mês de extremos climáticos no Brasil. Enquanto diversas regiões enfrentam temperaturas recordes, que em algumas cidades ultrapassam os 40°C, outras lidam com chuvas intensas, alagamentos e transtornos causados pela falta de infraestrutura adequada. Especialistas alertam que esses fenômenos, cada vez mais frequentes, evidenciam a necessidade urgente de investimentos em planejamento urbano e engenharia civil para mitigar seus impactos.

Segundo dados do Climatempo, os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul estão entre os mais afetados pelo calor extremo, com sensação térmica chegando a 50°C em alguns pontos. Além disso, as chuvas intensas que acompanham essa onda de calor já provocaram alagamentos em grandes centros urbanos como São Paulo e Belo Horizonte.

Para o engenheiro civil Ladimir Kriiger Junior, a situação reforça a importância de repensar a infraestrutura das cidades brasileiras. “Muitas das nossas cidades não foram projetadas para suportar essas variações climáticas tão intensas. O asfalto das ruas, por exemplo, absorve muito calor e contribui para o efeito das ilhas de calor. Já os sistemas de drenagem, na maioria das capitais, não dão conta do volume de água em períodos de chuva intensa”, explica.

Quando a temperatura sobe rapidamente, o ar retém mais umidade, o que pode resultar em chuvas fortes e concentradas em curto período. O problema é que muitas cidades brasileiras possuem sistemas de drenagem antigos, projetados para um volume de chuva muito inferior ao que ocorre hoje.

Atualmente, apenas 42,5% dos municípios brasileiros são cadastrados no sistema de atuação do DMAPU (drenagem e manejo de águas pluviais), conforme último levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) – coleta 2023 do Ministério das Cidades. “A drenagem urbana precisa ser planejada com inteligência. O ideal seria investir mais em pavimentos drenantes, ampliação de áreas verdes e modernização de galerias pluviais para evitar alagamentos, sem isso, continuaremos enfrentando problemas como ruas inundadas, deslizamentos de terra e impactos na mobilidade urbana”, afirma Kriiger.

A solução para esse empasse de décadas passa por um conjunto de ações que envolvem desde novas políticas públicas até mudanças no comportamento da população. Entre as principais medidas sugeridas por especialistas, destacam-se:

✔ Revisão dos sistemas de drenagem urbana, com ampliação da capacidade das galerias pluviais e implementação de tecnologias como reservatórios de contenção de cheias;

✔ Adoção de materiais mais sustentáveis, como asfalto permeável e concreto poroso, que permitem maior absorção da água;

✔ Expansão das áreas verdes, com parques urbanos e telhados verdes para reduzir ilhas de calor e facilitar a drenagem da água da chuva;

✔ Melhoria no planejamento urbano, evitando a impermeabilização excessiva do solo e ampliando o controle sobre ocupações em áreas de risco.

“Precisamos investir em infraestrutura adaptada às mudanças climáticas. Não dá mais para tratar esses fenômenos como esporádicos. Eles são uma realidade e vão se intensificar nos próximos anos”, alerta Kriiger.

Enquanto isso, a recomendação para a população é manter-se atenta às previsões meteorológicas e seguir as orientações das autoridades em caso de eventos extremos. A natureza já deu seu aviso: o futuro das cidades dependerá da forma como lidamos com ela a partir de agora.

Ladimir Kriiger Junior é engenheiro civil com experiência na gestão e planejamento de obras, atuando nos setores privados e públicos. Graduado pela Faculdade de Rondônia (FARO), acumula anos de atuação no setor em supervisão de construções residenciais, comerciais e infraestruturas. Especializou-se em Gestão de Obras na Construção Civil e em Orçamento e Projetos aplicados à construção, ambos pela FACUMINAS. Ao longo de sua carreira, trabalhou em empresas como K.V. Engenharia e Terra Forte, desenvolvendo habilidades em análise estrutural, elaboração de projetos e acompanhamento de obras.

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