Por Nelson Acar
Outubro, 2017 – A indústria da Construção Civil está passando por um surto inovativo, tanto para o mercado de edificações quanto para o setor de infraestrutura. Na esfera privada e na área pública, o uso do BIM (Building Information Modeling) tira a construção civil do século XX em direção ao século XXI. Isso vale do projeto inicial do empreendimento construído até o fim do seu ciclo de vida com sua demolição ou “retrofit” planejado.
Chegou a hora de fomentar novos processos de gestão e planejamento na área e tirar o Brasil de um atraso tecnológico causado por 13 anos de cegueira ideológica e um apetite desenfreado por corrupção das maiores empreiteiras do País, já que o cenário brasileiro vislumbra uma nova onda de investimentos, com o anúncio de que o Banco do Brasil deve liberar até R$ 50 bi para 18 projetos de infraestrutura. O setor poderá ser o principal indutor de uma retomada mais sólida do crescimento econômico.
O BIM – Building Information Modeling (Modelagem da Informação da Construção) é um conjunto de processos e softwares, que atendem a diversas disciplinas que conversam entre si desde a fase inicial de planejamento da obra passando por sua construção até a suas fases de operação e manutenção. É uma ferramenta de gestão e, em empreendimentos de maior monta, o BIM permite até o projeto de sua demolição desde a sua concepção.
Nos países do G20, a tecnologia será obrigatória em obras públicas ou financiadas com recursos públicos, o que já ocorre na Inglaterra. Nos Estados Unidos, o sistema é obrigatório em prédios públicos federais e em obras financiadas com dinheiro público, assim como em países como Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suécia, Japão, Escócia, Chile, Japão e Austrália, que se preparam para implantar legislações semelhantes até o fim de 2018, e é aplicada de uma forma exemplar em Singapura, no sudeste asiático, que se tornou o padrão mundial de excelência no seu uso como política pública.
Já existem também iniciativas importantes no Brasil, mas infelizmente somente um número muito reduzido de construtoras e escritórios de arquitetura o utilizam em todo o seu potencial. Apesar de haver soluções em BIM há mais de uma década, somente agora algumas prefeituras mais arejadas e inovadoras tomam iniciativas para implantar e exigir esta importante transformação digital em suas administrações.
Seu uso gera impactos com reduções drásticas nos custos e tempos de construção, nas despesas de operação e manutenção, no aumento da sustentabilidade ambiental, na redução de detritos, na eficiência no consumo e geração energética, na redução do nível de retrabalhos e patologias construtivas, redução de inadimplência dos mutuários no caso de habitações de cunho social e, principalmente, na diminuição drástica das oportunidades de corrupção.
O modelo interfere em todas as disciplinas, por toda a vida da construção e é coordenado e consistente. Todos os profissionais, desde o arquiteto, engenheiro, paisagista, projetista, até aquele que fará a manutenção, inclusive o que for demolir depois, se isso ocorrer, estão dentro do sistema, operando simultaneamente. Por exemplo, se houve a necessidade de mudar uma porta de lugar, a parede também muda.
O BIM para a construção civil equivale ao que a revolução da Toyota foi para a indústria automobilística. A construção civil no mundo está começando a entrar no século XXI. No Brasil estamos lutando ainda para sair do XIX.
Sócio da Dex Advisors responsável pelo programa de implantação de BIM nas construtoras. Desenvolve na Escola Politécnica da USP pesquisas relativas à industrialização e Inovação na Construção Civil e sua relação com a Internet das Coisas (IoT).